Brasil é o terceiro país com maior dívida externa, atrás da Espanha e EUA
FMI alerta ainda para a necessidade de países reduzirem sua dependência do exterior
AMANDA MARS / EL PAÍS Madri / São Paulo
A diretora do FMI, Christine Lagarde. / EFE
O Brasil saltou da sexta para a terceira
posição na lista dos países com o maior volume de dívida junto a
credores estrangeiros, apontou relatório divulgado nesta terça-feira
pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). O país ficou atrás apenas da Espanha, segundo mais endividado, e dos Estados Unidos, que lidera o ranking. De acordo com os dados do FMI publicados pelo jornal O Globo, a dívida externa brasileira total atingiu 750 bilhões de dólares (o equivalente a 1,8 trilhão de reais),
ou 33,4% do Produto Interno Bruto (1,01% do PIB global). O órgão
observou ainda que o governo brasileiro deve agir com rapidez para
reduzir o prejuízo.
No topo da lista figura os Estados Unidos.
A dívida externa norte-americana é a mais alta do mundo, chegando a 5,5
trilhões de dólares no fim de 2013, enquanto a Espanha deve 1,4 trilhão
de dólares. Mas há uma diferença de peso entre o primeiro e o segundo
casos: para os Estados Unidos, esses créditos externos representam 34%
de seu Produto Interno Bruto, enquanto para os espanhóis, a dívida
equivale a 103% de sua economia. Os números vêm do capítulo 4 do novo
relatório global de previsões que o FMI, no qual o órgão alerta sobre a
necessidade de continuar reduzindo esse tipo de desequilíbrio.
“Os riscos sistêmicos derivados dos
desequilíbrios globais diminuíram, mas reduzir os empréstimos externos
nas economias credoras requer melhoras nas balanças correntes e um
crescimento mais forte”, afirma o FMI. Mas essa necessidade de atingir
uma expansão econômica mais equilibrada (nem muito apoiada na demanda
externa, nem demasiadamente dependente da interna) não afeta só os
países mais deficitários, mas também aqueles que têm “margem graças a
seus potentes superávits”, adverte o organismo, na semana anterior à sua
reunião anual.
O Fundo incentivou a Alemanha, que faz
parte desse grupo, a impulsionar seus investimentos para animar a
economia, mas não teve muito êxito.
Na lista dos maiores credores do mundo
figuram o Japão (3 trilhões de dólares) e a China (1,6 trilhões de
dólares). Esta, em 2006, antes da grande tormenta financeira, ocupava a
sétima posição na mesma classificação. A Alemanha, que era o segundo
maior naquele ano, encerrou 2013 como o terceiro grande credor mundial,
com 1,6 trilhões de dólares emprestados a outros países.
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Por outro lado, os Estados Unidos e a
Espanha já eram os mais endividados com estrangeiros antes da crise. O
FMI explica que os cortes drásticos nas perspectivas econômicas dos
maiores endividados após a crise reduziram o valor dos ativos
localizados nesses países. Apesar de gerar um efeito negativo para a
riqueza do país, isso também significa um valor mais baixo para seus
empréstimos ao exterior, o que pressupõe um ganho de capital. “Os
Estados Unidos foram únicos nisso: mesmo sendo os mais endividados e
terem uma grande revisão para baixo de suas perspectivas de crescimento,
o valor de seus ativos cresceu por causa da preocupação em encontrar
refúgios seguros, o que resultou em uma perda de capital na sua posição
de investimento internacional”.
Os desequilíbrios globais caíram em
torno de 30% entre 2006 e 2013, já que alguns déficits na balança
corrente, como o dos Estados Unidos, ou superávits, como o da China, se
aproximaram. Mas “os superávits de alguns países do núcleo forte da zona
do euro, ao contrário, se mantiveram amplos”, afirma o Fundo. Além
disso, eles se deterioraram nos mercados emergentes.
Mais investimento público em infraestruturas
O FMI, que se prepara para reunião anual diante da zona do euro completamente estancada e com potências emergentes como o Brasil em recessão,
também aborda em seu relatório de perspectivas mundiais a necessidade
de se apoiar no investimento público para impulsionar as
infraestruturas. “Os custos de endividamento são baixos e a demanda é
fraca nas economias avançadas, e em muitos mercados emergentes e
economias desenvolvidas existem limitações em matéria de
infraestruturas”, indica o documento.
O problema da receita é a disparidade
dos cenários. A Espanha, por exemplo, deixa para trás uma era de
investimentos em infraestrutura que passará para a história ligada às
palavras “excesso” e “extravagância”, já que muitas grandes obras logo
se mostraram desnecessárias, com imagens bastante icônicas, como a do
aeroporto de Castellón, que nem chegou a ser inaugurado.
“Um aumento de 1% do PIB no investimento
em infraestrutura aumenta o nível de produção em cerca de 0,4% no mesmo
ano e em torno de 1,5% nos quatro anos seguintes”, afirmou, em uma
entrevista coletiva, Abdul Abiad, diretor-adjunto do departamento de
pesquisas do FMI.
O FMI ajusta a proposta aos países às
“necessidades” específicas em infraestruturas públicas, as quais são uma
“contribuição indispensável” para a produção econômica, que, aliás, é
altamente complementar a outras contribuições como o emprego e o capital
privado (não correspondente a infraestruturas).
Nesse sentido, a instituição insiste em
que é “complicado pensar em um processo de produção em qualquer setor
que não dependa das infraestruturas”, e ressalta que qualquer
deficiência é percebida rapidamente. “Cortes energéticos, abastecimento
insuficiente de água e estradas em mau estado afetam negativamente a
qualidade de vida da população e impõem barreiras significativas ao
trabalho das empresas”, adverte.