O ministro do Planejamento, Romero Jucá, afirmou à reportagem
nesta segunda (23) que não pensa em pedir demissão do cargo e que está
“tranquilo” em relação ao teor das conversas divulgadas pela Folha de
S.Paulo em que ele fala em “estancar a sangria” da Operação Lava Jato.
“É estancar a sangria da economia, do que está ocorrendo com o país,
qual é a vantagem de mudança do governo. A Lava Jato era o âmago do
governo, isso tem uma sangria econômica, social, política. A Lava Jato é
importante, tem que investigar, mas tem de delimitar”, afirmou, sobre o
diálogo que travou com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado.
O ministro disse ainda que conversou na noite de domingo (22) com o
presidente interino, Michel Temer, e que não pensa em pedir demissão do
cargo. “Não, não. Por que vou pedir demissão se estou dizendo isso
[sobre Lava Jato] desde o começo?”. Segundo ele, no entanto, a decisão
sobre sua permanência é de Temer.
“Estou muito tranquilo, o que disse ao Sérgio Machado é o que tem dito
aos jornalistas, não tem nenhum tipo de interferência na Lava Jato. É só
pegar o contexto da conversa. Tem que separar o que ele disse do que eu
digo”, ressaltou Jucá.
Segundo ele, a conversa ocorreu em seu gabinete ou na sua casa. “O
Sérgio Machado me procurou uma vez no início do ano, ele veio na minha
casa. Foi no meu gabinete ou na minha casa essa conversa”. “Não disse
nada que eu não sustente, não explique”, afirmou.Jucá confirmou que vai ao Senado com Temer nesta segunda para discutir as questões econômicas do governo.
CONFIRA TRECHOS DOS DIÁLOGOS
(data das conversas não foi especificada)
SÉRGIO MACHADO Mas viu, Romero, então eu acho a situação gravíssima.
ROMERO JUCÁ Eu ontem fui muito claro. […] Eu só acho o seguinte:
com Dilma não dá, com a situação que está. Não adianta esse projeto de
mandar o Lula para cá ser ministro, para tocar um gabinete, isso termina
por jogar no chão a expectativa da economia. Porque se o Lula entrar,
ele vai falar para a CUT, para o MST, é só quem ouve ele mais, quem dá
algum crédito, o resto ninguém dá mais credito a ele para porra nenhuma.
Concorda comigo? O Lula vai reunir ali com os setores empresariais?
MACHADO Agora, ele acordou a militância do PT.
JUCÁ Sim.
MACHADO Aquele pessoal que resistiu acordou e vai dar merda.
JUCÁ Eu acho que…
MACHADO Tem que ter um impeachment.
JUCÁ Tem que ter impeachment. Não tem saída.
MACHADO E quem segurar, segura.
JUCÁ Foi boa a conversa mas vamos ter outras pela frente.
MACHADO Acontece o seguinte, objetivamente falando, com o negócio
que o Supremo fez [autorizou prisões logo após decisões de segunda
instância], vai todo mundo delatar.
JUCÁ Exatamente, e vai sobrar muito. O Marcelo e a Odebrecht vão fazer.
MACHADO Odebrecht vai fazer.
JUCÁ Seletiva, mas vai fazer.
MACHADO Queiroz [Galvão] não sei se vai fazer ou não. A Camargo
[Corrêa] vai fazer ou não. Eu estou muito preocupado porque eu acho que…
O Janot [procuradorgeral da República] está a fim de pegar vocês. E
acha que eu sou o caminho. […]
JUCÁ Você tem que ver com seu advogado como é que a gente pode
ajudar. […] Tem que ser política, advogado não encontra [inaudível]. Se é
político, como é a política? Tem que resolver essa porra… Tem que mudar
o governo pra poder estancar essa sangria. […]
MACHADO Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel [Temer].
JUCÁ Só o Renan [Calheiros] que está contra essa porra. ‘Porque não
gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha’. Gente, esquece o
Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra.
MACHADO É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional.
JUCÁ Com o Supremo, com tudo.
MACHADO Com tudo, aí parava tudo.
JUCÁ É. Delimitava onde está, pronto. […]
MACHADO O Renan [Calheiros] é totalmente ‘voador’. Ele ainda não
compreendeu que a saída dele é o Michel e o Eduardo. Na hora que cassar o
Eduardo, que ele tem ódio, o próximo alvo, principal, é ele. Então
quanto mais vida, sobrevida, tiver o Eduardo, melhor pra ele. Ele não
compreendeu isso não.
JUCÁ Tem que ser um boi de piranha, pegar um cara, e a gente passar e resolver, chegar do outro lado da margem.
MACHADO A situação é grave. Porque, Romero, eles querem pegar todos os políticos. É que aquele documento que foi dado…
JUCÁ Acabar com a classe política para ressurgir, construir uma nova casta, pura, que não tem a ver com…
MACHADO Isso, e pegar todo mundo. E o PSDB, não sei se caiu a ficha já.
JUCÁ Caiu.
MACHADO Caiu a ficha. Tasso [Jereissati] também caiu?
JUCÁ Também. Todo mundo na bandeja para ser comido. […]
MACHADO O primeiro a ser comido vai ser o Aécio.
JUCÁ Todos, porra. E vão pegando e vão…
MACHADO [Sussurrando] O que que a gente fez junto, Romero, naquela
eleição, para eleger os deputados, para ele ser presidente da Câmara?
[Mudando de assunto] Amigo, eu preciso da sua inteligência.
JUCÁ Não, veja, eu estou a disposição, você sabe disso. Veja a hora que você quer falar.
MACHADO Porque se a gente não tiver saída… Porque não tem muito tempo.
JUCÁ Não, o tempo é emergencial.
MACHADO É emergencial, então preciso ter uma conversa emergencial com vocês.
JUCÁ Vá atrás. Eu acho que a gente não pode juntar todo mundo para
conversar, viu? […] Eu acho que você deve procurar o [exsenador do PMDB
José] Sarney, deve falar com o Renan, depois que você falar com os
dois, colhe as coisas todas, e aí vamos falar nós dois do que você achou
e o que eles ponderaram pra gente conversar.
MACHADO Acha que não pode ter reunião a três?
JUCÁ Não pode. Isso de ficar juntando para combinar coisa que não
tem nada a ver. Os caras já enxergam outra coisa que não é… Depois a
gente conversa os três sem você.
MACHADO Eu acho o seguinte: se não houver uma solução a curto prazo, o nosso risco é grande.
MACHADO É aquilo que você diz, o Aécio não ganha porra nenhuma…
JUCÁ Não, esquece. Nenhum político desse tradicional ganha eleição, não.
MACHADO O Aécio, rapaz… O Aécio não tem condição, a gente sabe
disso. Quem que não sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu, que
participei de campanha do PSDB…
JUCÁ É, a gente viveu tudo.
JUCÁ [Em voz baixa] Conversei ontem com alguns ministros do
Supremo. Os caras dizem ‘ó, só tem condições de [inaudível] sem ela
[Dilma]. Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar
ela, essa porra não vai parar nunca’. Entendeu? Então… Estou conversando
com os generais, comandantes militares. Está tudo tranquilo, os caras
dizem que vão garantir. Estão monitorando o MST, não sei o quê, para não
perturbar.
MACHADO Eu acho o seguinte, a saída [para Dilma] é ou licença ou
renúncia. A licença é mais suave. O Michel forma um governo de união
nacional, faz um grande acordo, protege o Lula, protege todo mundo. Esse
país volta à calma, ninguém aguenta mais. Essa cagada desses
procuradores de São Paulo ajudou muito. [referência possível ao pedido
de prisão de Lula pelo Ministério Público de SP e à condução coercitiva
ele para depor no caso da Lava jato]
JUCÁ Os caras fizeram para poder inviabilizar ele de ir para um
ministério. Agora vira obstrução da Justiça, não está deixando o cara,
entendeu? Foi um ato violento…
MACHADO …E burro […] Tem que ter uma paz, um…
JUCÁ Eu acho que tem que ter um pacto. […]
MACHADO Um caminho é buscar alguém que tem ligação com o Teori
[Zavascki, relator da Lava Jato], mas parece que não tem ninguém. JUCÁ
Não tem. É um cara fechado, foi ela [Dilma] que botou, um cara…
Burocrata da… Exministro do STJ [Superior Tribunal de Justiça].
Atualizado por Daniel Negreiros
negreiros@oestadoce.com.br
Fonte: FolhaPress