Esquema suspeito de fraudar provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e outros concursos corrompia fiscais ou usava candidato falso, que gabaritava questões e repassava informações por ponto eletrônico aos clientes. A conclusão é da operação Adinamia, da Polícia Federal em parceria com o Ministério Público Federal (MPF), que desarticulou a quadrilha, ontem. Em algumas ocasiões, o grupo tinha acesso às provas, violando o lacre antecipadamente.
Foram presos preventivamente quatro homens no Ceará, dois em Fortaleza e dois em Lavras da Mangabeira (a 417 km da Capital). Os municípios seriam os núcleos fortes de atuação do grupo. O terceiro seria Barbalha, no Cariri.
A delegada da PF em Juazeiro do Norte, Yolanda Leite, afirmou que a investigação comprovou a atuação da quadrilha no Enem de 2016. “Ainda não foi constatada nenhuma atuação dela no Enem deste ano. A operação foi deflagrada para preservar o Enem de 2017”, frisou.
“Há uma divisão de tarefas dentro da quadrilha. Os presos em Lavras desempenhavam papel importante no esquema. Os presos em Fortaleza são os chefes e principais alvos. Há indícios de que eles sejam servidores públicos relacionados ao ensino superior”, informou.
A organização fraudava certames, pelo menos, desde 2014. Além das prisões, foram cumpridos 11 mandados de conduções coercitivas e 21 de busca e apreensão em Fortaleza, Lavras, Barbalha, Juazeiro do Norte, Mauriti e Abaiara, no Ceará; São José de Piranhas e Cajazeiras, na Paraíba; e Teresina, no Piauí.
A PF informou acreditar na participação de mais de 20 pessoas no esquema. “Era uma organização criteriosa, com tarefas bem definidas, com arregimentadores, pessoas que transmitiam o gabarito e os chefes, que coordenam o funcionamento”, esmiuçou a delegada.
O suspeito do Piauí, conforme Yolanda Leite, não atuaria sozinho naquele estado. Ele transmitiria os gabaritos a candidatos piauienses a partir de dados do Ceará. Já na Paraíba, conforme o portal Mais PB, os alvos da operação seriam uma pessoa envolvida no grupo e dois universitários suspeitos de serem clientes.
Vagas no curso de Medicina eram as de maior procura e, por isso, as mais caras, podendo chegar a R$ 90 mil. Metade do valor era pago aos criminosos antes das provas e a outra parte após a aprovação no curso. A PF não informou quais outros concursos foram fraudados.
Investigações
As investigações foram iniciadas em 2016. Em novembro daquele ano, a PF em Juazeiro prendeu, durante o Enem, uma mulher de posse de gabaritos e um homem com ponto eletrônico. “Ainda tivemos um componente essencial que foi a denúncia de pais e de candidatos que sofreram tentativa de aliciamento para a compra desses gabaritos”, disse o agente da PF Cláudio Luz.
O delegado Wellington Santiago afirmou que, com a operação, as investigações devem se aprofundar. “Vamos poder definir com maior precisão o alcance em outros estados e definir as condutas de cada integrante”.
Os presos devem responder por fraudes em concursos públicos, organização criminosa e lavagem de dinheiro, com penas de reclusão de um a quatro anos, três a oito anos e três a dez anos de prisão, respectivamente, e multas.
DOMITILA ANDRADE
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