RIO - Após um 2015 de ajustes e de mudança em seu comando, a
Petrobras
pretende vender ativos como campos de petróleo e fatias em subsidiárias
neste ano com uma novidade: quer que os futuros sócios aceitem fazer
não apenas seus próprios investimentos, mas também que topem bancar a
parcela de investimentos que caberia à Petrobras — e receber esses
recursos depois, da própria estatal. De acordo com uma fonte ligada à
empresa, seria a forma de garantir a execução dos projetos sem
interrupção por causa de falta de recursos no caixa da Petrobras.
Essa
é uma das principais alternativas que está sendo buscada pela estatal
para evitar um novo corte nos investimentos em 2016, que já foram
reduzidos de US$ 27 bilhões para US$ 19 bilhões. Segundo a fonte, essa
mesma fórmula será usada para projetos menos rentáveis, como a produção
em campos de petróleo de águas rasas e terrestres:
— Se não se
conseguir que os parceiros possam fazer os investimentos por ela, a
Petrobras vai abandonar esses projetos, pois não tem recursos
suficientes — destacou a fonte. — Sem esses parceiros estratégicos que
possam investir a parcela da Petrobras, a estatal vai ter que cortar
mais investimentos em seu Plano de Negócios, que será lançado no início
deste ano.
Um exemplo é a área de Júpiter, no pré-sal na Bacia de
Santos, que está sendo ofertada pela Petrobras ao mercado. A estatal tem
80% da concessão e a petroleira portuguesa Petrogal detém os 20%
restantes. Na hipótese de a área consumir US$ 1 bilhão em investimentos,
e a Petrobras vender 30% de seus 80%, o novo sócio teria de investir um
total de US$ 800 milhões (US$ 300 milhões relativos à sua participação e
os US$ 500 milhões que cabem à Petrobras, que seriam posteriormente
pagos pela estatal). Procurada, a Petrobras não quis comentar a
estratégia de buscar sócios dispostos a antecipar sua fatia nos
investimentos.
NOVA RODADA DE RENEGOCIAÇÃO
Na
busca pelo reforço de caixa e redução dos custos, a Petrobras inicia
ainda neste mês uma nova rodada de renegociações de contratos com seus
fornecedores. Serão rediscutidos os contratos de unidades de exploração e
produção. Segundo a estatal, o objetivo dessa rodada é “obter redução
de custos em novos contratos". A companhia comemora a redução média de
13% com a renegociação de contratos das operações de exploração e
produção em 2015.
— Sempre tem onde cortar custos — disse uma fonte que não quis se identificar.
Neste
ano, a Petrobras aposta todas as suas fichas na venda de ativos para
obter uma receita de US$ 15,1 bilhões para complementar seus
investimentos e ainda cumprir suas obrigações com o pagamento dos juros e
amortizações da dívida. A expectativa é que haja uma operação de venda
envolvendo campos de petróleo já no primeiro trimestre.
O mercado aposta
na venda de ativos do pré-sal como forma de gerar caixa rapidamente. A
Petrobras diz que “está estudando oportunidades de desinvestimentos em
suas diversas áreas de atuação". A companhia destaca, porém, que “não
está considerando, neste momento, a venda de participação na área de
Libra (no pré-sal)”, considerada pelo mercado o ativo mais valioso da
empresa.
Quem teve acesso ao plano de vendas da companhia garante
que a estatal pretende se desfazer de seus bens de duas formas. A ideia
é reunir ativos menores, e menos rentáveis, como campos em terra e em
águas rasas, em um bloco único. Outra opção é vender participações de
grandes ativos isolados — caso do pré-sal. Segundo um executivo, a
companhia já abriu
data room para algumas áreas, como Baúna, na
Bacia de Santos, e Golfinho, no Espírito Santo (pós-sal). Há ainda
outras áreas (Tartaruga Verde, do pós sal da Bacia de Campos, e áreas
nos blocos de Carcará, Sagitário e Leme, além de Júpiter, todos no
pré-sal na Bacia de Santos, e Pão de açúcar, também do pré-sal da Bacia
de Campos).
— Acredito que o que será feito neste primeiro momento
é o aumento da participação de algum sócio atual nos campos do pré-sal
com a Petrobras. Qualquer outra venda de pré-sal terá de ser muito
discutida internamente. A empresa tem de preservar esses ativos
valiosos, e a venda dos grandes campos e áreas vai encontrar
dificuldades dentro da companhia — destacou uma outra fonte.
A
Petrobras explica, em nota, que “a carteira de desinvestimento é
dinâmica e a concretização destas oportunidades depende de condições
negociais e de mercado". Sinais mais claros dos próximos passos da
estatal serão conhecidos nas próximas semanas, quando a companhia vai
lançar seu Plano de Negócios 2016/2020. Sabe-se que a estatal usará como
referência o preço do barril do petróleo abaixo dos US$ 50 e um dólar
cotado por volta de R$ 4.
— O ano de 2016 será um ano duro. Em
2016, o petróleo não vai subir mais de US$ 50. Eu já ouvi falar de US$
20 o barril. Mas não acredito nisso. Pode ser até pontual, mas não na
média do ano. Aí, todo mundo para de investir e começa a faltar a
petróleo. Então, o preço sobe. A projeção sinaliza que o preço do
petróleo vai subir um pouco e voltar para uns US$ 60 a US$ 70 em 2017 —
prevê um especialista do setor.
MUDANÇA NA LEI EM DISCUSSÃO
Enquanto
isso, a Petrobras, em meio ao seu programa de manutenção de
plataformas, deve ter conseguido fechar o ano de 2015 com uma produção
de 2,125 milhões de barris de petróleo — e, assim, dentro da meta. E
isso apesar da forte greve dos petroleiros ocorrida ao longo de
novembro, que reduziu a produção em seis mil barris de petróleo por dia,
segundo a Petrobras. Para 2016, a meta continua em 2,185 milhões de
barris de petróleo. "As metas de produção estão mantidas e, como
acontece todos os anos, o Plano de Negócios e Gestão da Petrobras
passará por revisão em 2016", informou a empresa em nota.
Mas,
para manter o nível de produção nos próximos anos, especialistas
defendem o fim da obrigatoriedade de a estatal ser operadora única e ter
30% de participação em todos os campos no pré-sal explorados em regime
de partilha. Segundo eles, a Petrobras não teria condições financeiras
de assumir investimentos elevados pelos próximos anos.
Essas
obrigatoriedades farão, segundo empresários, com que a Petrobras seja
obrigada a investir até em áreas que não sejam do seu interesse,
onerando ainda mais a estatal. Assim, a esperança do empresariado do
setor está na mudança nessas regras. Está na Comissão de Constituição,
Justiça e Cidadania (CCJ) projeto do senador José Serra (PSDB-SP) que
revoga a participação obrigatória da Petrobras no regima de partilha. O
projeto (PLS 131/2015) também acaba com a participação mínima da empresa
em, pelo menos, 30% da exploração e produção em cada licitação.
O
projeto de Serra, porém, recebe fortes críticas das lideranças
sindicais dos petroleiros que consideram que a medida é “entreguista” e
ameaça a soberania nacional.