Por conta da suspeita de que a droga viesse da Bolívia e do Paraguai, a Polícia Federal é que vai investigar o caso
Malas de cocaína foram achadas na aeronave na noite da última terça-feira, em Canindé
O paulista, piloto e dono do avião, Cléber Paulo da Silva foi preso
Na tarde de ontem, o monomotor permanecia na pista de pouso
fotos: naval sarmento/kid júnior
A Polícia Federal (PF) irá investigar o caso do avião monomotor que
transportava cerca de 400Kg de pasta-base de cocaína, apreendido na
noite da última terça-feira, em Canindé. O voo teria partido do Mato
Grosso. A transferência do procedimento para a PF se deu porque existe a
suspeita que a rota de tráfico fosse internacional.
Segundo a Polícia foram encontrados mapas dentro do monomotor
Cessna-210, modelo Centurion 2, prefixo PP-FFU, com rotas traçadas
partindo da Bolívia e do Paraguai até o Ceará e o Piauí. A PM,
responsável pela apreensão, declarou que a principal suspeita é que a
droga seja da mesma organização criminosa que tentou pousar um monomotor
em uma pista clandestina, na divisa do Ceará e do Piauí, no último
sábado.
"Eles traziam uma encomenda grande de drogas e perderam quase tudo,
quando a primeira aeronave tentou pousar e explodiu. Acreditamos que
eles tivessem repondo este carregamento nesta outra aeronave", declarou o
comandante da Área Integrada de segurança (AIS) 13, tenente-coronel PM
Assis Azevedo, que comandou a operação.
A reportagem esteve no local onde o avião foi interceptado. A área,
conhecida como "Campo de aviação", seria utilizada para pousos de
aeronaves desde o fim da década de 50, conforme moradores. Localizada a
cerca de 2Km da BR-020, a pista tem extensão de 1,2Km e possui saída
também para a região de Aratuba. O local fica a aproximadamente 4 Km do
posto de fiscalização da Polícia Rodoviária Federal (PRF).
Presos
O piloto da aeronave, Cléber Paulo da Silva; e o taxista Antônio Cícero
Cruz Silva, presos na operação, foram transferidos de Canindé para a
sede da Superintendência da PF, em Fortaleza, na manhã de ontem, onde
prestaram esclarecimentos sobre os fatos a um delegado plantonista.O taxista foi preso porque teria dado fuga a uma pessoa que também estava a bordo do avião, junto com Cléber Silva.
"Ele deu informações desencontradas. Tentou dificultar o trabalho da
Polícia, mesmo sabendo que o homem que ele transportou estava sendo
procurado. Disse que tinha levado o suspeito para outra cidade, quando
na verdade trouxe para Fortaleza. Esta pessoa seria o responsável pela
droga e o dono de uma arma achada dentro do avião", disse o oficial.
De acordo com a Polícia, o piloto foi encontrado em um restaurante em
posse de vários galões de gasolina. Ele contou que a rota dos
entorpecentes dentro do Ceará era traçada para que fosse feito um pouso
em Boa Viagem e outro em Crateús, no entanto o avião teria ficado sem
combustível e ele foi até Canindé comprar gasolina. Cléber Silva disse
ainda, que desviou a rota porque não são todos os tipos de gasolina que
servem como combustível para a aeronave usada por ele.
"Quando ele desceu para comprar a gasolina pagou a duas pessoas para
vigiar o avião. Este foi o momento que encontramos tudo. Os dois homens
que estavam nas proximidades foram logicamente detidos", afirmou o
coronel Azevedo.
Os dois homens que vigiavam o avião são agricultores. Eles foram
encaminhados à Delegacia Regional de Canindé, mas acabaram sendo
liberados, depois de prestarem esclarecimentos.
Cléber Silva é autorizado a ser piloto privado pela Agência Nacional de
Aviação Civil (Anac), desde maio de 2009. A licença vale até 2018. Ele
podia decolar com uma carga de no máximo 1724Kg e cinco passageiros.
Silva mora em Cuiabá, no Mato Grosso, e é proprietário da empresa Zarro
Aviation Pilot Shop, que vende acessórios e produtos para aviação.
O suspeito é casado com uma controladora de voo da Força Aérea
Brasileira (FAB). Silva disse à Polícia que foi forçado a fazer a
viagem, porque os supostos criminosos o coagiram, mostrando uma foto em
que a esposa dele aparecia sendo sequestrada. A PM negou a versão dele.
Boa Viagem
Antes de Canindé, o avião tinha pousado em Boa Viagem, onde deixou 30Kg
de cocaína. O suspeito de ter recebido a droga foi abordado e preso.
Antônio Batista Lima Júnior, conduzia um Fiat, modelo Doblò, com placas
de Ipojuca, no Estado do Pernambuco, e foi detido quando o avião
decolava.
"A Polícia estava à procura de um latrocida na área e desconfiou do
pouso do avião. Eles foram checar e viram quando a aeronave decolou e um
homem se aproximou. Eles abordaram o suspeito e encontraram a mala com
30Kg de cocaína".
Conforme o delegado Inácio Torres, de Boa Viagem, o suspeito responde
por tráfico de drogas e tem passagens pela Polícia no Mato Grosso.
"Estamos investigando a participação dele na quadrilha", afirmou.
Voos são monitorados, diz FAB
O controle de tráfego aéreo sobre o Estado do Ceará é realizado pelo
Terceiro Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo
(Cindacta III), organização subordinada ao Departamento de Controle do
Espaço Aéreo (Decea) da FAB. A sede do Cindacta III está localizado na
cidade de Recife, em Pernambuco. O órgão faz o controle dos voos no
Nordeste do País e em uma extensa área do Oceano Atlântico, conforme a
FAB.
Praticamente todos os voos vindos da América do Sul, com esse destino,
cruzam o espaço aéreo sob a tutela do órgão. É no Estado vizinho ao
Ceará, onde é feita a visualização do espaço aéreo sobrejacente ao
Estado em função de radares na região.
De acordo com o comandante do Cindacta III, coronel aviador Paulo
Eduardo Albuquerque de Magella, o espaço aéreo no Ceará é monitorado
através de radares e por meio de estações de telecomunicações espalhadas
na região.
Conforme o oficial, os radares de monitoramento funcionam de duas
maneiras: o radar primário identifica alvos em um sistema que lança um
pulso e por reflexão identifica que existe alguma aeronave naquela
posição. Já o radar secundário, recebe informações de um equipamento
chamado transponder que além de sinalizar a existência de uma aeronave
em determinada posição, fornece informações sobre o plano de voo
declarado (ver infográfico).
No "Campo de Aviação", de Canindé, populares afirmaram que é comum o
sobe-desce de aeronaves. "Às vezes, a gente acorda de madrugada com o
barulho do motorzinho. Às vezes, no fim da tarde, a gente vê um
aviãozinho passando aqui por cima. Uma vez, uns curiosos correram pra
ver descer, e o piloto assustou e desistiu de pousar", disse um morador
da região.
Conforme a aeronáutica, não existe uma tecnologia capaz de inibir ou
bloquear o sistema de transmissão de informações dos radares em
aeronaves civis. Sobre os voos comerciais, serviços de aerotáxi e voos
particulares comumente utilizados, a (FAB) informou que para a
realização dos voos, os responsáveis devem apresentar uma rota
pretendida. A partir deste plano de rota e através do monitoramento, a
aeronave é acompanhada pelos órgãos de controle de forma a observar o
cumprimento da rota e mantê-la a uma distância segura das demais
aeronaves.
Curiosos
No local onde estava o avião interceptado pela Polícia, muitos
moradores chegavam para ver de perto a aeronave. Um dos curiosos acabou
encontrando um fragmento de papel, em que constavam escritos três
números de celular e a mensagem "Boa Viagem (entregue). Canindé.
Crateús".
Márcia Feitosa /Levi de Freitas/
Sara Sousa
Repórteres/Colaboradora