Em discurso repleto de ironia, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva mandou um recado à oposição ao declarar que os adversários "podem
juntar quem quiser" que não irão derrotar Dilma Rousseff nas eleições
presidenciais de 2014. Ao lado de lideranças do PT e de outras siglas,
Lula discursou para centenas de militantes que compareceram à festa
organizada para comemorar os dez anos do partido no governo federal.
"Eles podem se preparar, juntar quem eles quiserem, que, se eles têm
dúvida, vamos dar como resposta a reeleição de Dilma em 2014. É essa a
consagração da politica do Partido dos Trabalhadores", disse o
ex-presidente no encerramento de seu discurso. Em seguida, Lula foi
ovacionado pela plateia com o tradicional grito "olê, ole, olá, Lula,
Lula."
O ex-presidente disse que o governo petista não pode ser derrotado em
2014 porque "os partidos de lá [da oposição] estão fragilizados". "Eles
estão sem valores, sem discurso, sem propostas. Qualquer coisa que eles
tentarem fazer, nós fizemos mais e melhor. É por isso que queremos fazer
esse debate com eles, com a opinião publica, com a imprensa."
Lula também respondeu às afirmações do antecessor Fernando Henrique
Cardoso, que chamou de "picuinha" as declarações da presidente Dilma
Rousseff durante o anúncio da expansão do benefício do Bolsa Família. Na
ocasião, Dilma disse que "não tem medo de comparações, inclusive sobre a
corrupção".
Haddad elogia Dilma e Lula
Antes de Lula, discursou o prefeito de São Paulo Fernando Haddad, que,
ao elogiar a presidente Dilma Rousseff, disse não imaginar que uma
mulher iria "enquadrar" o sistema financeiro internacional.
"Nunca imaginei que seria uma mulher que iria enquadrar o sistema
financeiro internacional", disse o prefeito, que qualificou a presidente
como um "exemplo de fibra e determinação", afirmou Haddad, no discurso
de abertura da festa, realizada no hotel do Parque do Anhembi.
Em seguida, Haddad manifestou desejo de ver Dilma governar o país até
2018. "Foi a senhora que mostrou já nesse governo que era sim possível
fazer as reformas que o Brasil precisava e fazer as que o Brasil ainda
precisa. E que queremos ver realizar nos dois anos, e se depender de
mim, nos próximos seis anos."
Sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Haddad disse também
ter se surpreendido com a sua eleição em 2002. O prefeito afirmou que
morava fora do país e resolveu voltar com a família para votar em Lula no
segundo turno. "Outra coisa que eu não pudia imaginar. Eis que em 2002
Lula surpreende, é eleito e o povo brasileiro passa a ter voz."
O clima de festa foi interrompido pouco antes da fala de Haddad, quando
uma militante gritou dizendo que o auditório estaria vazio em
comparação a enorme fila de militantes que estariam esperando para
entrar no evento do lado de fora do hotel. De acordo com a assessoria do
evento, mais de mil pessoas aguardam do lado de fora da festa.
Vaias para Kassab
Presente ao evento, o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab foi
vaiado pela militância petista. O líder do PSD foi colocado em lugar
destaque do evento, ao lado de outros aliados do partido. A mesa dos
aliados, sobre um palco, foi montada atrás da mesa com as lideranças
petistas. Ao ser chamado para compor a mesa, Kassab recebeu vaias
efusivas dos presentes.
Antes de fundar o PSD, Kassab integrou o DEM, inimigo histórico do PT, e
era apoiado pelo PSDB de José Serra. Após fundar a sigla, em 2011, o
ex-prefeito buscou aproximar-se com o PT. Atualmente, o PSD integra a
base de sustentação do governo federal e do prefeito de São Paulo,
Fernando Haddad.
"O governo [do PT] trouxe para o Brasil avanços extraordinários. O povo
brasileiro reconhecidamente vive muito melhor. O povo hoje tem acesso a
programas sociais. O PSD se sente muito confortável em estar aqui
presente em trazer aqui esse apoio. Parabéns à militância petista, aos
dirigentes petistas, parabéns ao presidente Lula, à presidente Dilma",
disse Kassab.
Depois de afagar o PT, o ex-prefeito chegou a receber algumas palmas, mas também ouviu gritos de "Fora Kassab".
Na mesma mesa de Kassab estavam também os ex-ministros, demitidos por
Dilma Rousseff, Carlos Lupi (PDT) e Alfredo Nascimento (PR), os
senadores Eduardo Lopes (PRB), Robson Amaral (PTN) e Valdir Raupp
(PMDB)além de Renato Rabelo, presidente do PCdoB.
Lula, com terno cinza claro e uma gravata com as cores do Brasil,
integrou a mesa petista, assim como presidente Dilma Rousseff, que estava
de vermelho.
Na mesma mesa, os governadores Agnelo Queiroz (Distrito Federal),
Jaques Wagner (Bahia), Marcelo Déda (Sergipe), Tião Viana (Acre) e o
prefeito Haddad, que, a exemplo de Lula e Dilma, foi muito aplaudido.
PT varia entre esquerda e direita em seus 33 anos14 fotos
Dirceu, Genoino e Cunha
Os petistas José Dirceu, José Genoino e João Paulo Cunha, condenados
pelo STF (Supremo Tribunal Federal) no julgamento do mensalão, tiveram
uma recepção calorosa por parte da militância do PT na festa
Genoino e Cunha, ambos deputados federais, chegaram ao local por volta
das 18h30, por uma porta a qual a imprensa não teve acesso. A militância
petista recepcionou ambos com abraços. Os presentes formaram uma fila
com aproximadamente 30 pessoas para cumprimentar Genoino. Dirceu chegou
por volta de 19h, e sua presença também foi festejada pelos presentes. O
ator global José de Abreu, amigo de Dirceu que irá se filiar ao PT, o acompanhou na chegada
.
Assim como ocorreu com Genoino, militantes do partido formaram uma
longa fila para abraçar Dirceu. Por volta de 19h20, chegaram os
ministros José Eduardo Cardozo (Justiça), Gilberto Carvalho
(secretaria-geral da Presidência), Aloizio Mercadante (Educação) e
Alexandre Padilha (Saúde), que passou por Dirceu sem cumprimentá-lo.
Outros petistas históricos, como Benedita da Silva, Luiz Dulci, Professor Luizinho e Marcelo Déda,
estiveram no evento.
O espaço onde ocorre a festa, com capacidade para 850 pessoas, não foi
suficiente para abrigar todos que se dirigiram ao local. Um espaço
anexo, equipado com telão, foi montado para cerca de 400 presentes.
Segundo a organização, mais de mil pessoas acabaram ficarando do lado de
fora.
Organizado pela direção nacional do partido, o ato terá a presença da
presidente Dilma Rousseff, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e
de membros do Diretório Nacional e da Executiva do partido.
Em janeiro de 2003, o ex-presidente Lula chegou à Presidência da
República, cargo no qual permaneceu por oito anos, até conseguir eleger
sua sucessora --Dilma Rousseff, que foi empossada em 2011. O evento
também vai comemorar os 33 anos do partido, fundado em 10 de fevereiro
de 1980, no Colégio Sion, em São Paulo.
O cartaz do evento estampa os rostos de Lula e Dilma e a frase "o
decênio que mudou o Brasil". No convite, o partido conclama para as
"comemorações dos dez anos do Governo Democrático e Popular".
O ato petista acontece um dia depois de Dilma anunciar a inclusão de
2,5 milhões de beneficiários do Bolsa Família,
programa criado no governo Lula. Para isso, o governo anunciou a
elevação da renda doada para mais de R$ 70 por pessoa das famílias
agraciadas com a renda – o valor é considerado limite para a pobreza
absoluta.
A erradicação da pobreza extrema é uma promessa eleitoral de Dilma. Os
recursos para o aumento dos beneficiários somarão R$ 733 milhões aos
cofres públicos.
"O Brasil vira uma página decisiva na longa história, na nossa longa
história de exclusão social. Nela está escrito que mais 2,5 milhões
brasileiros estão deixando a extrema pobreza", afirma a presidente Dilma
Rousseff durante a cerimônia de anúncio da nova medida. "Por não termos
abandonado o nosso povo, a miséria está nos abandonando.", disse Dilma
durante o pronunciamento em Brasília.
FHC diz que PT faz ‘picuinha’
As declarações de Dilma irritaram a oposição, em especial os tucanos. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso
gravou um vídeo
no qual declarou que o PT faz "coisa de criança" e "picuinha" ao
criticar governos passados. Em trecho do vídeo, FHC diz que "Eles pensam
que o Brasil começou agora. Não começou. No meu governo, eu mudei o
rumo do Brasil, que estava muito desorganizado".
" Mas eu sei reconhecer o que no passado se fez de bom no Brasil. E
cada vez que o PT acerta, meu Deus, é bom para o Brasil. O mal é quando
ele erra. Quando atrapalha a Petrobras, atrapalha a Eletrobras",
critica.
O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) também
criticou, no plenário do Senado, em Brasília, o discurso da presidente Dilma Rousseff sobre a redução da pobreza no Brasil.
Relembre os 33 anos do PT em 33 imagens33 fotos
2003:
O PT empossa seu primeiro presidente, Luiz Inácio Lula, que se emociona
na cerimônia de posse no Palácio do Planalto, em Brasília
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"Hoje, parece que voltamos às estatísticas anteriores à chegada do
governo do presidente Lula. A presidente afirmou que Lula tirou 36
milhões [da linha de extrema pobreza], e agora ela (...) deseja ir além,
quer encontrar mais 2,5 milhões, que somados aos 19,5 milhões que ela
mesma teria retirado da pobreza dá 58 milhões de pessoas que se
encontrariam, segundo as diferentes versões do PT, em condições de
extrema pobreza", afirmou o senador paulista.
O líder do DEM no Senado, Agripino Maia (RN),
advertiu
sobre a possibilidade de os programas assistenciais do governo federal
resultarem em acomodação da população que poderia se "habituar a receber
favores do governo".
A rápida artilharia oposicionista pode estar só começando, já que o PT pretende alinhar um
discurso de confronto entre as gestões petista e tucana nas próximas reuniões de lideranças.
O evento desta quarta abrirá uma série de debates sobre a gestão
petista que deverão passar pelas demais regiões do país. Paulo
Frateschi, secretário nacional de organização do PT, explica que o
objetivo dos seminários é "construir uma narrativa própria do PT
juntamente com seus militantes, sobre a chegada à Presidência da
República e as mudanças desempenhadas durante estes 10 anos".
Mas discussões sobre o
mensalão
--denúncia de compra de parlamentares durante o governo Lula – estão
fora de questão, segundo o presidente da sigla, Rui Falcão. Para ele, o
momento é para "celebrar políticas públicas".