A
água armazenada em todos os açudes do Ceará está com a qualidade
comprometida em algum nível. Segundo o último relatório de monitoramento
da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), a situação
piorou em relação ao estudo anterior, feito no ano passado. Dos 111
reservatórios estudados, 13 têm implicações na qualidade, mas, na
maioria dos casos, ficam em níveis aceitáveis. Outros 98 têm água com
substâncias indesejáveis ou com comprometimento acentuado. Quarenta e
dois açudes não puderam ser avaliados por impossibilidade técnica ou por
estarem vazios.
A análise foi divulgada este mês e é referente a coletas realizadas
em fevereiro deste ano, período de início da quadra chuvosa. Do total,
88,3% das amostras tinham algum grau de contaminação além do aceitável.
Em novembro de 2015, 82,7% das águas apresentaram algum material
indesejável. No relatório de 2015, o açude de Tatajuba, no município de
Icó, era o único com águas consideradas limpas. Na nova análise, não há
nenhum açude nessa categoria.
A pesquisa leva em conta a deterioração da qualidade da água, que
pode ficar com aspecto esverdeado e mal cheiroso, causar a morte de
peixes e favorecer o surgimento de plantas aquáticas. Além disso, a água
nessas condições demanda mais tratamento, o que aumenta o custo do
processo. Isso foi justificativa da Cagece para reajuste na conta de
água no último mês de março.
Segundo a Cogerh, os açudes do semiárido costumam ter esses problemas
devido à baixa renovação das águas. “A estiagem é um fator extremamente
relevante na deterioração da qualidade da água”, explicou, em nota, o
Estado. Segundo o relatório, os principais geradores da contaminação
para os reservatórios são descargas de esgotos domésticos e industriais,
afluência de partículas dos solos, criação de gado no entorno dos
açudes e piscicultura.
Na última terça-feira, 26, foi anunciado pelo Governo do Estado novo
plano de contingência, que terá meta de economia de água de 20% e tarifa
mais severa.
Níveis de poluição
Na análise, a maioria dos açudes apresentaram grau intermediário ou
alto de poluição. Há 36 açudes no pior estágio de comprometimento da
qualidade. Eles apresentam elevada concentração de substâncias
indesejáveis e estão sujeitos a grande reprodução de algas e aumento da
mortandade de peixes.
Outros 62 açudes estão no segundo pior estágio de degradação da
qualidade. Estão entre os açudes mais usados e, por isso, os mais
afetados pela ação humana. Eles representam a maioria dos reservatórios
analisados. Suas águas perderam parte das características ideais, como a
transparência. Os açudes mais importantes do Ceará estão nessa
categoria. É o caso dos três maiores: Castanhão, Orós e Banabuiú. E
também o Gavião, por onde passa a água que abastece Fortaleza.
A Cogerh ressaltou que a água armazenada em qualquer açude precisa de
tratamento para ficar apropriada ao consumo. Conforme o órgão, as
análises divulgadas pelo relatório são de amostras colhidas na
superfície dos reservatórios, próximo às barragens. “Não necessariamente
será representativa da qualidade de toda a massa de água acumulada no
açude”, diz.
Contudo, o órgão ressalta que tais índices representam indicação de
que a qualidade da água está comprometida. Para a Cogerh, o Estado tem
mostrado que é preciso desenvolver estratégias para conviver com a
escassez hídrica e com a presença desses materiais nos reservatórios,
sobretudo após anos consecutivos com poucas chuvas.
Saiba mais
Na última quinta-feira, 21, o Castanhão ficou, pela
primeira vez desde que encheu, com volume abaixo de 8% da capacidade
total. Ontem, o reservatório estava com 7,83% do volume. Em maio, estava
com 9,17% da capacidade.
Neste ano, o Ceará fechou a quadra chuvosa abaixo da
média, com 329,3 mm de precipitação e desvio negativo de 45,2%. O ano
entrou na lista dos dez mais secos da região desde 1951.
Fonte: http://www.opovo.com.br/