O
governo brasileiro pedirá esclarecimentos a Caracas pelos "inaceitáveis
atos hostis" registrados nesta quinta-feira contra um grupo de
senadores que viajou à Venezuela para interceder por políticos
opositores detidos, no que provocou um desgaste diplomático entre os
dois países.
"O governo brasileiro solicitará ao governo
venezuelano, pelos canais diplomáticos, os devidos esclarecimentos sobre
o ocorrido", destacou uma nota oficial do Itamaraty, que "lamenta" os
incidentes que prejudicaram a visita dos legisladores a Caracas.
O
grupo de senadores da oposição, incluindo Aécio Neves (PSDB), foi
hostilizado na região de Caracas. A van em que viajavam acabou cercada
por manifestantes, que bateram nas janelas do veículo.A nota do
Itamaraty ameniza o tom, ao ressaltar que pedirá tais esclarecimentos "à
luz das tradicionais relações de amizade entre os dois países".
"Lamentamos
os incidentes que afetaram a visita à Venezuela da Comissão de Relações
Exteriores do Senado e que prejudicaram o cumprimento da programação
prevista naquele país. São atos hostis inaceitáveis de manifestantes
contra parlamentares brasileiros", destacou o Itamaraty
A nota
lembra que os senadores viajaram para Caracas a bordo de um avião da
Força Aérea Brasileira e que, por intermédio da embaixada do Brasil em
Caracas, solicitou e recebeu garantia de proteção policial para a
delegação.
Aécio visitou o país com outros cinco senadores, em uma
missão política e, ao mesmo tempo, "humanística". O objetivo era pedir a
libertação dos opositores presos Leopoldo López, Antonio Ledezma e
Daniel Ceballos.
O avião oficial da FAB pousou no Aeroporto Simón
Bolívar - localizado a 40 km da capital - por volta do meio-dia. A
partir de então, a delegação tentou seguir para Caracas e chegar à
prisão onde López está recluso. Por volta das 17h local (18h30 de
Brasília), a comitiva decidiu embarcar na aeronave e voltar ao Brasil.
"O
que assistimos em Caracas hoje está acima de qualquer das piores
expectativas que tínhamos (...). Fomos simplesmente impedidos de avançar
para visitar Leopoldo (López), para encontrarmos os líderes da
oposição", disse Aécio antes de regressar ao Brasil.
"Fomos
sitiados em uma via pública (...). Nossa van foi atacada por um grupo de
simpatizantes do governo" venezuelano, acrescentou.
"Tentamos ir
para a penitenciária novamente. Mas o tráfego, mesmo sem a influência
dos bloqueios, o tornou impossível", escreveu Aécio no Twitter.
O
fluxo de veículos entre o aeroporto e a capital foi interrompido por um
protesto e por uma operação de limpeza dos túneis, situados na
autoestrada que liga os dois pontos.
A AFP constatou, na tarde desta quinta-feira, a presença de membros da Guarda Nacional bloqueando a via.
No Brasil, o Congresso reagiu.
"Há
relatos de cerco à delegação brasileira, hostilidade, intimidação,
ofensas e apedrejamentos do veículo onde estão os senadores", destacou
uma nota oficial.
"O presidente do Congresso Nacional repudia os
acontecimentos narrados e pedirá uma reação altiva do governo
brasileiro", acrescentou o comunicado.
Um grupo da oposição também convocou um protesto em frente ao consulado venezuelano em São Paulo.
Líder
da ala radical da oposição, López está detido em uma prisão militar nos
arredores de Caracas há quase 16 meses. Ele é acusado de incitar à
violência em protestos contra o governo que deixaram 43 mortos entre
fevereiro de maio de 2014, assim como Ceballos, ex-prefeito de San
Cristóbal (Táchira, oeste).
Ceballos está em uma dependência do
serviço secreto, e Antonio Ledezma, prefeito de Caracas, acusado de
conspiração e detido em 19 de fevereiro deste ano, está em prisão
domiciliar, após ser submetido a uma cirurgia.
Em
entrevista concedida à emissora americana CNN, a presidente Dilma
Rousseff chegou a manifestar seu desejo de que o governo venezuelano
liberte os opositores presos. Em nenhum momento, Dilma criticou
explicitamente o governo de Nicolás Maduro.
Nos últimos meses,
várias personalidades políticas, entre elas o ex-presidente da Colômbia
Andrés Pastrana; o do Chile Sebastián Piñera; o da Bolívia Jorge
Quiroga; e o da Espanha Felipe González, visitaram o país caribenho.
Eles também não tiveram autorização para ver López, o que gerou críticas
da comunidade internacional ao governo Maduro.