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sexta-feira, 19 de junho de 2015

Incidente com senadores provoca tensão entre Brasil e Venezuela


O governo brasileiro pedirá esclarecimentos a Caracas pelos "inaceitáveis atos hostis" registrados nesta quinta-feira contra um grupo de senadores que viajou à Venezuela para interceder por políticos opositores detidos, no que provocou um desgaste diplomático entre os dois países.

"O governo brasileiro solicitará ao governo venezuelano, pelos canais diplomáticos, os devidos esclarecimentos sobre o ocorrido", destacou uma nota oficial do Itamaraty, que "lamenta" os incidentes que prejudicaram a visita dos legisladores a Caracas.

O grupo de senadores da oposição, incluindo Aécio Neves (PSDB), foi hostilizado na região de Caracas. A van em que viajavam acabou cercada por manifestantes, que bateram nas janelas do veículo.A nota do Itamaraty ameniza o tom, ao ressaltar que pedirá tais esclarecimentos "à luz das tradicionais relações de amizade entre os dois países".

"Lamentamos os incidentes que afetaram a visita à Venezuela da Comissão de Relações Exteriores do Senado e que prejudicaram o cumprimento da programação prevista naquele país. São atos hostis inaceitáveis de manifestantes contra parlamentares brasileiros", destacou o Itamaraty
A nota lembra que os senadores viajaram para Caracas a bordo de um avião da Força Aérea Brasileira e que, por intermédio da embaixada do Brasil em Caracas, solicitou e recebeu garantia de proteção policial para a delegação.

Aécio visitou o país com outros cinco senadores, em uma missão política e, ao mesmo tempo, "humanística". O objetivo era pedir a libertação dos opositores presos Leopoldo López, Antonio Ledezma e Daniel Ceballos.

O avião oficial da FAB pousou no Aeroporto Simón Bolívar - localizado a 40 km da capital - por volta do meio-dia. A partir de então, a delegação tentou seguir para Caracas e chegar à prisão onde López está recluso. Por volta das 17h local (18h30 de Brasília), a comitiva decidiu embarcar na aeronave e voltar ao Brasil.

"O que assistimos em Caracas hoje está acima de qualquer das piores expectativas que tínhamos (...). Fomos simplesmente impedidos de avançar para visitar Leopoldo (López), para encontrarmos os líderes da oposição", disse Aécio antes de regressar ao Brasil.

"Fomos sitiados em uma via pública (...). Nossa van foi atacada por um grupo de simpatizantes do governo" venezuelano, acrescentou.

"Tentamos ir para a penitenciária novamente. Mas o tráfego, mesmo sem a influência dos bloqueios, o tornou impossível", escreveu Aécio no Twitter.

O fluxo de veículos entre o aeroporto e a capital foi interrompido por um protesto e por uma operação de limpeza dos túneis, situados na autoestrada que liga os dois pontos.
A AFP constatou, na tarde desta quinta-feira, a presença de membros da Guarda Nacional bloqueando a via.

No Brasil, o Congresso reagiu.

"Há relatos de cerco à delegação brasileira, hostilidade, intimidação, ofensas e apedrejamentos do veículo onde estão os senadores", destacou uma nota oficial.

"O presidente do Congresso Nacional repudia os acontecimentos narrados e pedirá uma reação altiva do governo brasileiro", acrescentou o comunicado.

Um grupo da oposição também convocou um protesto em frente ao consulado venezuelano em São Paulo.
Líder da ala radical da oposição, López está detido em uma prisão militar nos arredores de Caracas há quase 16 meses. Ele é acusado de incitar à violência em protestos contra o governo que deixaram 43 mortos entre fevereiro de maio de 2014, assim como Ceballos, ex-prefeito de San Cristóbal (Táchira, oeste).

Ceballos está em uma dependência do serviço secreto, e Antonio Ledezma, prefeito de Caracas, acusado de conspiração e detido em 19 de fevereiro deste ano, está em prisão domiciliar, após ser submetido a uma cirurgia.

Em entrevista concedida à emissora americana CNN, a presidente Dilma Rousseff chegou a manifestar seu desejo de que o governo venezuelano liberte os opositores presos. Em nenhum momento, Dilma criticou explicitamente o governo de Nicolás Maduro.

Nos últimos meses, várias personalidades políticas, entre elas o ex-presidente da Colômbia Andrés Pastrana; o do Chile Sebastián Piñera; o da Bolívia Jorge Quiroga; e o da Espanha Felipe González, visitaram o país caribenho. Eles também não tiveram autorização para ver López, o que gerou críticas da comunidade internacional ao governo Maduro.

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