Crise do abastecimento deverá recrudescer na zona rural e se estender pelas cidades, caso o prognóstico se confirme
Estiagem chega ao quarto ano consecutivo e dificulta recarga de açudes
Foto: A. C. Alves
A reunião foi realizada no auditório do Palácio da Abolição. Além
do anúncio do prognóstico da quadra chuvosa, havia grande expectativa
de prefeitos e gestores presentes para as medidas para enfrentar o
quarto ano de seca
FOTO: J. L. ROSA
Governador Camilo Santana garantiu não apenas perfurar novos poços, como reativar os já existentes
Fortaleza. O quadro de estiagem em 2015 deve ser muito
mais crítico do que o verificado em 2014. A previsão de chuvas abaixo
da média histórica para os meses de fevereiro a abril é de 64%, enquanto
que em 2014 foi de 40%. Com esse cenário, o governo do Estado já
trabalha com situações críticas que deverão se agravar na zona rural e
se estender, agora, pelos perímetros urbanos do Interior.
O prognóstico da quadra chuvosa foi divulgado, ontem, no Palácio da
Abolição, pelo presidente da Fundação Cearense de Meteorologia
(Funceme), Eduardo Sávio Martins. Baseado em estudos do oceano Pacífico,
onde ainda predomina uma forte influência do fenômeno El Niño; e do
Atlântico, onde as águas não obtiveram um nível de aquecimento
desejável, a expectativa é que seca neste ano seja tão grave quanto a de
2012, quando tivemos chuvas 50% abaixo da média.
Segundo a Funceme, o prognóstico é de chuvas abaixo da média é de 64%; a
probabilidade de quadra chuvosa normal é de 27%; e chuvas acima da
média é de 9%. Em 2014, a estimativa de chuvas abaixo da média para o
período foi de 40%; normal de 35% e acima da média de 25%. Com esse
quadro, Eduardo observou que há grandes possibilidades de veranicos e
irregularidade das precipitações, o que compromete a recarga dos
reservatórios cearenses.
Criticidade
Tão logo o anúncio do prognóstico da quadra chuvosa foi feito, o
governador Camilo Santana deu entrevista coletiva, também no Palácio da
Abolição, quando lembrou que os quatro anos seguidos de seca já não
preocupam apenas o campo, mas também as cidades. Ele lembrou que já vem
sendo executado um plano emergencial para atendimento das demandas
hídricas das populações, que incluem a construção de mais adutoras e
interligação de canais para atendimento nas áreas urbanas e perfuração
de poços na zona rural.
Além disso, ele lembrou que manterá um contato constante com o governo
federal, no sentido de que as ações emergenciais sejam implementadas o
mais rápido possível sem sacrifício das populações interioranas.
"Temos uma sequência de anos em que o Estado não consegue uma recarga
para os reservatórios e isso é preocupante. Já tive uma reunião
anteriormente com os secretários de Recursos Hídricos e Planejamento,
além da criação de um grupo de trabalho para a convivência a seca",
disse o governador. Segundo Camilo Santana, lembrando também o
ex-governador Cid Gomes, que somente poderá garantir uma segurança
hídrica com obras estruturantes, a fim de que não se possa depender
sempre das chuvas, que incluiriam as obras da Transposição do Rio São
Francisco, o Cinturão das Águas. Ele lembrou que uma ação também
emblemática foi o Eixão das Águas, uma vez que Fortaleza e as cidades da
Região Metropolitana vêm sendo abastecidas com a água proveniente do
Açude do Castanhão.
Sobre a Transposição, o secretário de Recursos Hídricos, Francisco
Teixeira, estima que as obras deverão estar concluídas até o início de
2016. Ele lembrou que o contingenciamento de financiamentos federais não
deverá afetar a obra.
Perfuração de poços será prioridade de governo
Fortaleza. Dentre as medidas anunciadas, o governador
Camilo Santana se deteve quanto ao fato de que, não apenas a zona rural
carece de mais perfuração de poço, como também a reativação dos já
existentes. Ele disse que um esforço conjunto está sendo feito entre
governo do Estado e as prefeituras para que o serviço seja viabilizado
no mais curto período do tempo.
O governador lembrou que era sabedor das dificuldades de manejo dos
poços até mesmo pelos custos com o bombeamento. Esse é o caso de
Canindé, que onde o serviço é mantido por gerador e causa uma despesa de
R$ 146 mil mensais.
Para o professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Saneamento
Ambiental, da Universidade Federal do Ceará (UFC), Horst Frischkorn, tão
necessário quanto perfurar novos poços é reativar os antigos, inclusive
com equipamentos que possam oferecer água de boa qualidade, como o uso
dos dessalinizadores, muitos em desuso no Ceará. Segundo Horst, que é
alemão mas reside no Brasil desde 1978, foi realizada uma pesquisa, há
três anos, sobre a utilização do poços profundos no Sertão Central, em
Banabuiú, que constatou que cerca de 40% estavam desativados. "Entendo
que a situação não deve ser diferente em outras regiões cearenses",
afirmou. Ele também vê dificuldades na mobilização rápida de
perfuratrizes.
Mais informações:
Governo do Estado
SRH
Telefone: (85) 3101-3995
Funceme:
Telefone: (85) 3101.1127
Marcus Peixoto
Repórter