Assim
como os três maiores açudes do Ceará - Castanhão, Orós e Banabuiú - são
fundamentais para o abastecimento da população, outras dezenas de
reservatórios menores garantem a segurança hídrica no interior. Apesar
da boa quadra chuvosa em 2020, o cenário preocupa. Algumas cidades
convivem com racionamento há sete anos, devido à irregularidade das
precipitações. Ainda assim, o cenário é melhor que há um ano.
Hoje,
segundo o Portal Hidrológico do Ceará, dos 155 açudes monitorados, 65
estão abaixo de 30% da capacidade - a situação é mais crítica em 26
deles, que estão abaixo de 10%. As bacias do Banabuiú e Médio Jaguaribe
são as mais preocupantes, com média de volume de 11,07% e 10,67%,
respectivamente.
Caririaçu
O
açude Manoel Balbino, em Juazeiro do Norte, que abastece Caririaçu, com
cerca de 26 mil habitantes, é um dos reservatórios em situação crítica.
Hoje, está com 6,57%, um pouco melhor que em janeiro do ano passado,
quando alcançava 5,46%. O diretor do Serviço Autônomo Municipal de Água e
Esgoto de Caririaçu (Samae), Cícero Soares Santana, acredita que o
volume suporta os primeiros meses de 2021 por conta do aporte do açude
São Domingos II, que está com 25,48%, porém, sua capacidade é quase 19
vezes menor que o primeiro. "Ainda esperamos boa chuva neste ano".
Desde
2013, a cidade convive com racionamento. Segundo moradores, alguns
bairros passam até 20 dias sem água. Em outros, como Cedron e Bico da
Arara, a situação é pior: "Já passei um mês sem água, mas o papel chega
do mesmo jeito", denuncia o aposentado Aloísio Pereira. Outros
aproveitam as chuvas, enchem baldes e cisternas para suprir a ausência
de água.
"No caminho de Juazeiro pra cá, quando vê cano estourado, já imagina que vai faltar água", conta o pedreiro Zacarias da Silva.
O
diretor do Samae nega que a população fique mais de três dias sem água.
"A média é três. Ficam oito dias com água e três sem, para equilibrar.
A
situação hídrica também é delicada em outros municípios, segundo a
Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), como Pereiro, que depende
da adutora que capta água na localidade de Mapuá, no Rio Jaguaribe,
distante mais de 30km; em Monsenhor Tabosa, Salitre e Milhã. "Essas são
as cidades mais críticas, mas temos segurança para os próximos três
meses", observou o diretor para o Interior da Cagece, Hélder Cortez.
Alívio
As
boas chuvas de 2020 garantiram a segurança hídrica em cidades como
Iguatu e Acopiara, que enfrentaram, em 2018 e 2019, crise no
abastecimento urbano porque o nível do açude Trussu chegou a 3%. Na
quadra chuvosa de 2020, o nível chegou a 25% e "trouxe segurança hídrica
por três anos", pontuou o superintendente do Serviço Autônomo de Água e
Esgoto (Saae) de Iguatu, Marcos Ageu.
Ainda
na região Centro-Sul, a cidade de Icó também vivenciou crise de
desabastecimento e, por mais de um ano, os moradores receberam água em
condições precárias. O açude Lima Campos também chegou a 3%, mas em 2020
recebeu recarga e o nível subiu para 19,8%, assegurando a distribuição
de água.
Outros
municípios que enfrentaram dificuldades em 2019 e 2020 foram Quixadá e
Quixeramobim. Ambos dependem do açude Pedras Brancas, cujo nível está
reduzido (6%), mas houve um alívio com a retomada de água na barragem de
Quixeramobim, que ficou em volume morto entre novembro de 2019 e março
de 2020 e, hoje, acumula 22% de água.
Entre
2016 e o início de 2020, o açude Vieirão, que abastece Boa Viagem,
secou e trouxe enormes dificuldades para o abastecimento da cidade, que
passou a depender de caminhão-pipa. Atualmente, o reservatório está com
13%, mas chegou a 22% no fim da quadra chuvosa de 2020.
Diário do Nordeste
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