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A Polícia Federal deflagrou mais uma etapa da Operação Lava Jato
nesta terça-feira (22), denominada “Xepa”, em que os principais alvos
são executivos da empreiteira Odebrecht e doleiros. A operação investiga
a estrutura interna da construtora para pagamento de propina para
vários setores, inclusive a Petrobras.
Um carro da Polícia Federal entrou no início da manhã no hotel Royal
Tulip, em Brasília, endereço de políticos na capital federal, e saiu por
volta das 7h40, sem presos.
Desdobramento da 23ª fase, a “Acarajé”, em que o marqueteiro João
Santana e sua mulher e sócia, Mônica Moura, foram presos -o casal
trabalhou nas campanhas presidenciais de Luiz Inácio Lula da Silva em
2006 e de Dilma Rousseff em 2010 e 2014-, na etapa desta terça estão
sendo cumpridos ao todo 110 ordens judiciais, sendo 67 de busca e
apreensão, 28 de condução coercitiva, 11 de prisão temporária e 4 de
prisão preventiva.
A ação, que envolve 380 policiais federais, é realizada nos Estados
de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Bahia,
Piauí, Distrito Federal, Minas Gerais e Pernambuco.Os alvos de condução coercitiva prestarão depoimentos nas cidades em
que se encontram. Os suspeitos presos serão levados para a
Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.Os investigados responderão pelos crimes de lavagem de capitais, corrupção, organização criminosa e evasão de divisas.
“SETOR DE OPERAÇÕES ESTRUTURADAS”
As medidas deflagradas nesta manhã estão ocorrendo a partir da
análise do material apreendido em etapas anteriores em que se descobriu
que o Grupo Odebrecht mantinha um esquema de contabilidade paralela para
pagar propina a pessoas ligadas ao poder público.
De acordo com o Ministério Público Federal, havia um “setor de
operações estruturadas”, que fez pagamentos de propinas até novembro de
2015, conforme troca de e-mails entre os investigados.
“Para operacionalizar o esquema ilícito, foi instalado um sistema
informatizado próprio, utilizado para armazenar os dados referentes ao
processamento de pagamentos ilícitos e para permitir a comunicação
reservada entre os executivos e funcionários envolvidos nas tarefas
ilícitas”, diz a Procuradoria.
A partir da análise de e-mails e planilhas, o Ministério Público
apurou que pelo menos quatorze executivos de outros setores da Odebrecht
pediam “pagamentos paralelos”, o que era centralizado nesse “setor”.
“Essas evidências abrem toda uma nova linha de apuração de pagamento de
propinas em função de variadas obras públicas.”
De acordo com a Procuradoria, “dentre as razões que embasaram as
prisões preventivas estão: as novas evidências de pagamentos de propinas
vultosas, disseminadas e sistematizadas como modelo de negócio.”
A investigação da PF aponta que eram realizados pagamentos em espécie
a pessoas indicadas por ocupantes de altos cargos da empreiteira,
independentemente da área de atuação do executivo. Há indícios concretos
de a construtora “se utilizou de operadores financeiros ligados ao
mercado paralelo de câmbio para a disponibilização de tais recursos”,
diz a PF.As sedes da empreiteira Odebrecht na Bahia, no Distrito Federal e em São Paulo são alvos de buscas.
BRASÍLIA
Além do hotel, em Brasília, a PF cumpre mandados em pelo menos outros
três endereços. Lula estava hospedado nesse hotel pelo menos até a
madrugada desta terça. Não há a informação, porém, se Lula é um dos
alvos dessa etapa da operação.
No momento em que os agentes já cumpriam as medidas no interior do
Royal Tulip, Dilma passou pedalando sua bicicleta a aproximadamente 50
metros da portaria do hotel.
Na noite de segunda (21), o ex-presidente jantou com Dilma para
discutir a possibilidade de o governo manter a sua posse como ministro
da Casa Civil, contestada pelo STF (Supremo Tribunal Federal), já que o
ministro Gilmar Mendes a considerou uma forma de tentar dificultar as
apurações da Lava Jato.
Caso o governo vença no Supremo e Lula ocupe a cadeira ministerial,
ele passará a ter foro privilegiado e, consequentemente, sai da alçada
da operação em Curitiba.
Essa etapa foi deflagrada um dia depois da “Polimento”, a primeira
fase internacional da operação. Realizada em Portugal, teve como alvo o
operador Raul Schmidt Felippe Junior, investigado por suspeita de
pagamento de propina aos ex-diretores da Petrobras Renato Duque, Jorge
Zelada e Nestor Cerveró. Schmidt estava foragido desde julho de 2015.
Fonte: Folha Press