Uma
dependente química em tratamento, como ela mesmo faz questão de ressaltar, que
viveu por anos escrava dos vícios nas drogas, hoje usa sua experiência e dedica a vida para
ajudar outras pessoas a superarem a dependência das drogas, com
a realização de palestras em escolas de Nova Russas, município cearense
localizado nos Sertões de Crateús.
Ana
Beatriz, 20 anos, começou a dependência química aos 13, e para ela, só a fé
explica a transformação que tem vivenciado nos últimos meses. “Já são 08 meses
limpa”. Afirma.
As palestras sobre prevenção de drogas são realizadas principalmente nas escolas, pois segundo Ana Beatriz, é um ambiente com grande presença de jovens, um vez que a fase de descobertas pode influenciar o uso de entorpecentes.
Ana ministra palestras motivacionais
contando sua experiência. Com o apoio de sua mãe, a Assistente Social Sol
Rocha, de integrantes do CRAS, Conselho Tutelar, professores e amigos, já
realizou palestras, contando seu testemunho nas Escolas Estaduais: de Ensino
Profissional Manoel Abdias Evangelista, Alfredo
Gomes e Olegário Abreu Memória, além das escolas da rede municipal: São Francisco, Zilmar Mendes Martins, 11 de
Novembro e uma escola em Nova Betânia.
Ana
Beatriz afirma que pretende expandir este trabalho para toda região, pois
entende que Deus lhe confio esta missão, que é a de contribuir para que jovens
não enveredem pelo caminho quase sem volta, que é o do mundo das drogas.
O emocionante e forte testemunho de Ana Beatriz:
“Meu
nome é Ana Beatriz, tenho 20 anos, sou uma dependente química em tratamento. Bom,
gostaria de contar um pouco da minha vida com as drogas. Fui usuária de drogas
por 7 anos.
Tudo
começou quando eu fui morar no Rio de Janeiro aos 13 anos.Eu tinha uma vida
muito boa, tinha de tudo, nunca me faltou nada. Era uma menina muito mimada,
tudo que queria, eu tinha. Tudo começou quando eu fui morar com minha mãe no
Rio de Janeiro.
Eu
e minha mãe nunca tivemos uma boa relação. Quando eu tinha 8 meses de vida,
minha mãe para me dá uma vida melhor, me deixou em Nova Russas e foi para o Rio
de Janeiro para trabalhar. Isso fez com que eu não a considerasse como uma mãe,
pois quem me criou, me educou e me amou, foi minha vó, que hoje chamo de mãe.
Eu
sempre viajava ao Rio para visitar minha mãe, até que chegou um tempo em que
ela decidiu me criar, e aos 13 anos fui morar com ela, mas eu não a respeitava,
não lhe ouvia, eu fazia tudo o que me dava na “telha”.
Quando
cheguei ao Rio, conheci pessoas mais experientes do que eu, tive amizades que
me levaram a conhecer o mundo das drogas. Foi aí que tudo começou.
Comecei
fumando um cigarro normal. Saia de casa escondida, ia para os bailes. Certo
dia, uma criança de 09 anos me ofereceu
o primeiro cigarro de maconha. Eu achava aquilo tudo normal, pensei que fosse
onda, fumar um cigarro de maconha, eu já me via uma pessoa adulta fazendo o uso
daquela droga.
Depois
comecei a usar o “lóló”, o conhecido cheirinho da lóló. Então eu me sentia mais
independente. Tive muitas brigas, muitas discussões com minha mãe, quando ela
descobriu que eu estava usando drogas.
Mas
eu não queria que ela se metesse na minha vida; eu falava pra ela que ela não
era minha mãe, pois não havia sido ela que havia me criado, então eu não tinha
respeito por ela. Depois de muitas brigas e lutas, ela foi desistindo de lutar
por mim, pois via que não tinha jeito.
Conheci
um traficante chefe de um morro no Catete e comecei a me relacionar com ele, e
depois disso, saí de casa para morar com ele, que era usuário de “ziré”
(Maconha com crack). Vivi 01 ano com ele, usando todo tipo de droga. Fumava
ziré, usava lóló, cheirava pó e fumava maconha, todos os dias. Não havia um dia
que eu não usasse a droga.
Me
separei dele, voltei à morar com minha mãe, e assim que fui morar com ela, eu
não usava mais o ziré, e não sentia falta daquela droga, pois tinha a lóló que
todos os dia eu usava, e o pó, e isso me contentava a não usar o crack.
Depois
que me separei desse cara, comecei a frequentar uma praça que fica em
Bonsucesso e lá conheci mais pessoas, umas usavam pó, outros só fumavam maconha
e assim por diante. E lá conheci outra pessoa que comecei a me relacionar. Fumávamos
maconha, e usávamos loló. Ele ele
roubava as pessoas na rua, até que teve um dia em que ele me chamou para ir com
ele, e eu achando aquilo “mó barato, mó onda”,e fui. Ele falava que eu só
precisava ficar sentada na moto, que eu não ia fazer nada, pois até então, era
ele quem abordava as pessoas.
Até
que um dia a casa caiu, como sempre cai, rodamos (Fomos presos), como eu era de
menor, fui para uma detenção de menores infratores, lá eu passei 4 meses presa,
e como o cara que foi preso comigo ele era de maior, foi para uma prisão e
respondeu por vários crimes, furtos, 157(Roubo a mão armada) Indução de menor
(Por eu está no momento com ele praticando os furtos) e outros.
Eu
saí da detenção e comecei a fazer medidas socioeducativa (PRESTAÇÃO DE SERVIÇO
À COMUNIDADE:Realização de tarefas gratuitas por meio de entidades assistenciais
por no máximo seis meses.)
E
o juiz decretou uma LIBERDADE ASSISTIDA ( Acompanhamento e orientação ao
adolescente por meio de programa social. O prazo mínimo é de seis meses,
podendo ser prorrogada, revogada ou substituída por outra medida. O serviço
deve promover socialmente o adolescente e sua família, supervisionar o
aproveitamento escolar e encaminhá-lo ao mercado de trabalho. Em Joinville, a
medida é cumprida no Centro de Referência Especializado de Assistência Social
(Creas). Lá, os adolescentes recebem orientação de psicólogo, assistente social
e educador.)
Comecei
a frequentar, psicólogos, psiquiatras, casa de apoio. Mais não deixei de usar a
droga.
Quase
morri numa favela no Rio, eu era muito conhecida nessa favela, até que um
bandido me ligou, me chamando para curti na favela, mas na verdade eu ia era
morrer. Tudo porque um dos bandidos era a fim de mim, e eu nunca havia ficado
com ele, apenas o fazia de otário, o enrolava, e ele sempre me dava drogas. Até
que então chegando lá, me levaram a um quarto, me agrediram, e me falaram que
eu ia morrer, que iam me queimar viva nos pneus.
Daí
comecei a chorar, entrar em desespero
pois os cara estavam apenas esperando a ordem do chefe, aí foi quando me
lembrei de Deus, comecei a orar e clamar por Deus, e quando eu abri meus olhos,
todos os bandidos estavam correndo, mandando “geral meter o pé”, pois 04
caveira do BOPE estavam entrando na favela, e essa foi a hora de sair correndo,
meter o pé daquele lugar.
Eu
tenho certeza que DEUS me ouviu. Minha primeira libertação foi naquele momento.
Pois quase morri, mais não era minha hora, eu ainda tinha muito que viver e
quebrar a cara com a vida, para um dia aprender.
Quando
saí da favela, voltei à praça para usar drogas e foi daí que comecei a pegar
firme no pó, cheirava todo dia, passava noites e noites virada me drogando. Fui
com um colega roubar de novo, para
termos dinheiro para consegui o pó, paramos um táxi, inventamos que éramos um
casal, dissemos que queríamos ir a tal ponto e assim o taxista fez, e nos
deixou em uma rua escura e foi aí que abordamos o taxista e dissemos que era um
assalto, mas o taxista resistiu, e o cara que estava comigo saiu correndo e eu
também, e quando cheguei na Avenida Brasil, e ia atravessar a passarela para
uma favela, os policiais me renderam, e fui presa novamente, e dessa vez passei
mais tempo,06 meses na mesma casa de detenção que havia ficado na ultima vez.
Passando
esses 06 meses, quando eu sai, minha mãe
decidiu sair do Rio de Janeiro, pois já não aguentava mais aquela vida. Já
haviam se passado 04 anos que eu usava drogas constantemente.
Até
que chegou um dia que minha mãe não aguentando mais me vê naquele estado,
decidiu voltar para o Ceará, pois ela pensava que aqui não teria drogas como tem
no Rio, e imaginava que seria mais fácil me livrar das drogas.
Quando
chegamos em Nova Russas no dia 22 de abril de 2014 , eu ainda fazia uso da
maconha, então eu falava só uso maconha, eu achava que tirava onda, eu tinha 18
anos, novinha, tinha me recuperado um pouco da droga, estava bonitinha, tinha
uma moto, comecei a sair pros forrós, a beber constantemente, a fumar muita
maconha.
Eu
achava que necessitava da maconha para dormi, para comer, para me acalmar. Sempre
falava que nunca deixaria de fumar maconha, pois achava que não fazia mal, que
era apenas uma erva não legalizada. Até que então revi uma colega de infância
(Não irei comentar o nome dela).
Ela
era usuária de crack, e quando eu bati de frente com ela, ela me pediu para que
levasse em um lugar e que ela me daria um trocado, tipo pela corrida e assim eu
fiz.
A
levei à tal ponto, esperei e a trouxe de volta ao lugar de origem e ela me deu
um trocado para a gasolina, praticamente eu tinha me tornado um “aviãozinho”. Isso
acontecia umas 06 vezes no dia, eu levava, e ela me dava dinheiro ou maconha,
pois sabia que eu usava a maconha e assim foi.
Teve
um dia, ela sozinha usando a pedra dela eu pedi para experimentar e foi aí que
o pior aconteceu: fumei o crack pela primeira vez na lata, e quando eu usei a
primeira vez eu quis mais, e fumei com ela todas as pedras de crack que ela
tinha, não eram poucas, eram muitas, e quando acabou eu queria mais. Que fique
claro, ela não foi a culpada de eu ter usado o crack, eu usei porque quis.
E
assim fomos para a rua atrás de mais. Como eu era novata nisso, ela se
encarregava de arrumar o dinheiro para comprarmos a droga. Minha mãe não
desconfiava que eu tinha usado o crack.
Assim
se passando 02 meses, não demorou muito para falarem para ela que eu andava com
más companhias. E ela percebendo que eu chegava em casa de madrugada ou até
mesmo de manhã, sem sono, sem fome, só chegava em casa tomava banho e voltava
pra rua. Eu ainda tinha a moto, quando a ficha dela caiu e ela percebeu que eu
estava usando o crack, automaticamente minha vó me tomou a moto, mas eu não
deixei de usar o crack.
Se
passando 06 meses que eu usava a droga, eu já não achava a droga fácil. Comecei
ganhar dinheiro fácil, comecei a me prostituir para conseguir o dinheiro para
usar a droga, até que então conheci um cara que me vendo naquele estado, e que me
conheceu pelas redes sociais, me parou e falou. “Cara, você era tão linda,
porque está se destruindo assim? Sai disso, você consegui” (Meu Atual Marido).
Saí
com ele, ele me pagou, usei a droga e dormi com ele. E ele me tratava
diferente, me tratava de uma forma que nenhum outro homem já havia me tratado,
apesar de saber dos meus defeitos e da minha vida, ele me via diferente.
Começamos a nos conhecer, a nos relacionar, mas eu não deixava de usar o crack,
e para ele não vê prostituindo, começou a bancar meu vicio e foi tudo que eu
queria, pois não precisava mais me prostituir para conseguir a droga, pois
achei, uma pessoa que me bancava daquilo.
Mas
quando a ficha dele caiu e viu que aquilo não era vida pra mim e nem para ele,
minha mãe decidiu me internar numa clínica de recuperação.Eu aceitei, pois ele
falava que iria me esperar, que queria que eu saísse dessa para pudermos viver
uma vida normal, como um casal.
Passei
04 meses numa clínica em Fortaleza, de dezembro de 2015 à abril de 2016, e quando
cheguei a Nova Russas, voltei com ele, ficamos juntos e para não procurar o
crack, eu falava para ele que precisava, que necessitava da maconha. E assim
ele fez, começou a atender minha vontade. Comprava maconha todos os dias para
mim, para que eu não precisasse ir atrás de outras drogas.
E
passei 03 meses sem procurar o crack, até que dei uma “escapulida”.
Falava
para meu esposo que ia na casa da minha mãe, mas na verdade, ia à rua atrás do
crack. Isso já era final de julho de 2016.
No
começo de Agosto de 2016, descobri que estava grávida. Tentei dar uma maneirada
nas drogas, mas sem êxito. Voltamos à ficar juntos, continuei na maconha e
quando a gente brigava, sempre voltava à rua para procurar o crack, para me
distrair com aquilo.
Tentei
suicídio 02 vezes. A primeira vez foi num galpão no centro, quando botei uma
corda no pescoço e pulei da cadeira, mas apareceu o pai de uma amiga que me
salvou. A segunda vez foi na casa da minha mãe, quando coloquei novamente uma
corda no pescoço, mas minha mãe acordou e me salvou.Eu estava tentando suicídio
pois não estava mais conseguindo a droga como conseguia antes. Minha mãe foi
atrás novamente de uma internação, e eu grávida fui pela segunda vez, para uma
clínica de recuperação. Nesta segunda vez passei pouco tempo, apenas 15 dias,
pois não aceitam gestantes.
Saí
da clínica no final do ano de 2016, e voltei à mesma vida de antes. Usava crack
e maconha constantemente. Em fevereiro de 2017, já com 07 meses de gestação,
faltando poucos dias para completar os 08 meses, comecei a sentir dores, e naquele
momento meu filho estava prestes à vir ao mundo. Meu filho nasceu de 07 meses,
por minha culpa, por não tê-lo amado quando estava em meu ventre.
Quando
meu filho nasceu, não precisou ficar em incubadora, apenas ficou em observação,
tomando antibióticos. Meu filho nasceu
com 1,300 Kg.
O
médico falou que eu teria que passar 03 meses naquela maternidade. Fiquei numa
casa de apoio da Santa Casa de Sobral. Todos os dias eu via meu filho. Após 15
dias naquela maternidade, fui ver meu filho, e suas mãos, seus braços, suas
pernas, seus pés todos roxinhos por causa das furadas das agulhas para fazer
exames, para tomar os antibióticos na veia. Como ele era muito pequeno, suas
veias não apareciam muito, era difícil de encontrá-las, por isso furavam todo
seu corpo.
Quando
vi meu filho naquele estado, comecei a chorar de desgosto de mim mesma, pois
sabia que o que ele estava passando era tudo minha culpa. Segurei meu filho
chorando e comecei a orar, clamar à DEUS, pedir desculpa para meu filho por não
tê-lo amado quando estava em meu ventre. Clamei à DEUS, se DEUS me amasse e
estivesse comigo naquela hora, que curasse meu filho e o tirasse da maternidade
em menos de 15 dias,pois nunca mais botaria nenhuma droga na minha boca, e
assim que eu saísse da maternidade, voltaria para a igreja, e assim se cumpriu.
Quando se passaram mais 13 dias, meu filho recebeu alta e fomos para casa.
Passamos 28 dias na Maternidade da Santa Casa. O
período inicial era de 03 meses e ficamos menos de um mês. Após 15 dias em casa,
fui à igreja para agradecer à DEUS pela vida do meu filho, pela minha vida, por
tudo que ele fez e tem feito em nossas vidas.
Com
02 meses apresentei meu filho ao SENHOR. Continuo firme nos caminhos do
SENHOR.Hoje eu não saio mais, não bebo, não uso drogas, não sinto falta, não
sinto nenhuma crise de abstinência, graças ao meu bom DEUS que me deu forças
para superar os problemas da vida, pois imaginava nunca sairia daquela vida.
Algumas
vezes tentei suicídio, pois achava que não tinha mais jeito, mas para DEUS nada
é impossível.
Vocês
acham que me arrependo do que eu fiz? do que vivi? do que passei?Não me
arrependo completamente de nada, pois se não tivesse vivido essa vida, passado
por essas tribulações, não teria tido meu filho, não teria voltado à igreja,
não teria me reconciliado com DEUS e com minha família. Agradeço à DEUS todos
os dias pela vida do meu filho, por minha família e por minha vida.
Hoje
sou uma nova criatura. Renasci para honra e glória do Senhor Jesus Cristo. Já
são 08 meses limpa, completamente limpa. Desde quando comecei a sentir as dores
do parto, nunca mais usei nenhum tipo de droga. DEUS me libertou. DEUS me deu o
Dom de ser mãe para puder renascer, pois
estava no fundo do poço, e pensava que na minha vida não tinha mais jeito,pois
queria morrer para sair daquilo, mas DEUS não deixou o inimigo prevalecer sobre
a minha vida. Ele decretou vitória na minha vida e me fez uma vitoriosa, e hoje
com meu testemunho, quero contar para o mundo, para aqueles que precisam saber
que DEUS existe e apesar de tudo, ele nos ama, ele morreu na cruz por nós e
nunca nos abandonou e nunca nos esqueceu. Para tudo na vida há um jeito, tudo
tem um começo e um fim.
E
eu decreto vitória sobre a minha vida, hoje sou feliz, sou mãe, sou mulher,
vivo numa vida normal. Hoje moro com meu marido e meu filho, todos me amam, e
minha família nunca deixou de me amar, e nunca perderam a fé que um dia eu
saísse daquela situação.
Hoje
sou prova viva que DEUS existe e nunca desistiu de mim.
Pois
isso eu digo, o mundo das drogas é um caminho quase sem volta. Com muita luta e
muito sofrimento eu sai, mas será que você que ainda não entrou neste mundo, se
entrar, vai conseguir?
Hoje
sou uma dependente química em tratamento, não estou totalmente curada, pois um
usuário de drogas, que é uma doença, pode
passar, mas um dia pode voltar.
É
como falamos na Pastoral da Sobriedade: "Só por hoje graças a DEUS".
Temos
que agradecer à Deus pelo dia que conseguimos ficar sóbrios. Pois cada dia é
uma luta, é uma batalha. E todo dia precisamos estar preparados para matar este
dragão.
"Diga
não às drogas, pois é um mundo quase sem volta!"