Indexador econômico que permitiu a implementação do real entrou em vigor em 1º de março de 1994
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que implantou o Plano Real em 1994
(Divulgação)
A URV não era uma moeda. Era um índice calculado diariamente pelo Banco Central e que oscilava como o dólar. Servia para reajustar preços e salários para que ambos caminhassem no mesmo compasso. À época, a inflação no Brasil estava em mais de 5 500% ao ano. A intenção era fazer com que, após alguns meses em que a URV servisse como referência de preços para a população, se tornasse moeda — o real. À época, o ex-ministro Delfim Netto apelidou o plano de "dolarização envergonhada". A moeda corrente naqueles tempos era o cruzeiro real. Todos os cálculos eram feitos em URVs, mas pagos em cruzeiro real.
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O novo indicador possibilitou a mudança de moeda e a estabilização monetária de forma democrática e transparente, sem os confiscos que por tantos anos abocanharam as poupanças dos brasileiros de surpresa num dia qualquer pela manhã.
Quando entrou em vigor, a cotação da URV em cruzeiros reais era de 647,50. O valor era corrigido diariamente e os preços de mercadorias, tarifas, além dos salários passaram a ser fixados em URV. Em julho, quando a URV virou o real, seu valor era de 2 750 cruzeiros reais. Em 1994, a inflação encerrou em 244,86% — avanço considerado irrisório se comparado ao de anos anteriores.
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A estratégia para ganhar a confiança do mercado em relação ao Brasil não passava apenas pela tentativa de estabilização de preços e mudança de moeda. Previa mais ajuste fiscal, renegociação da dívida externa, reajuste anual do salário mínimo e a desindexação da economia. Para recuperar parte da receita perdida com os cortes de gastos e ainda reduzir o tamanho do estado, o Plano Real também previa um ousado cronograma de privatizações.
Entre os autores da estratégia acertada que FHC executou estavam muitos dos nomes que criaram os planos precedentes, como Pérsio Arida, Edmar Bacha e André Lara. Entre os novos nomes que se juntaram ao time estavam os economistas Gustavo Franco e Pedro Malan.
O 'blocão' de deputados que emparedou o governo Dilma
Sem diálogo nem interlocutores com o Congresso, governo está às voltas com um grupo de deputados que decidiram se unir em pleno ano eleitoral
Marcela Mattos, de Brasília
SEMPRE ELE – Eduardo Cunha reúne líderes dos partidos: dor de cabeça para o Palácio do Planalto à vista
(Sergio Lima/Folhapress)
Embora ainda não tenha destacado um líder para assumir a linha de frente do bloco, o principal articulador do grupo é uma antiga pedra no sapato do governo: o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O parlamentar já escolheu suma primeira batalha: derrubar o projeto do Marco Civil da Internet. Com cinco ministérios, o PMDB também está insatisfeito por não ter ganhado mais espaço no governo nas mudanças feitas por Dilma até agora.
Ainda restam dúvidas sobre o real potencial da associação de siglas: a fidelidade do grupo não foi testada em nenhuma votação nem ficou determinado quanto tempo as legendas atuarão em conjunto – uma possibilidade, por exemplo, é que o governo libere verbas represadas de emendas parlamentares em ano eleitoral para acalmar os ânimos. Outro ponto ainda sem resposta é o grau de envolvimento de um partido de oposição em um grupo de parlamentares cujos partidos deverão apoiar a reeleição de Dilma. “Eu sou o incendiário”, resume o líder do Solidariedade, Fernando Francischini (PR). No próximo dia 11, o grupo vai se reunir para discutir projetos comuns e levá-los à votação.
De olho na reeleição, também irrita os parlamentares o isolamento das ações organizadas pelo Planalto. “Nós estamos aqui votando, aprovando matérias do governo, mas nenhum ministro nos recebe. Eles enviam bilhões para o nosso Estado, discutem a seca que o assola, mas não escutam e nem convidam o Congresso. Somos substituídos por técnicos”, desabafa o líder do Pros, Givaldo Carimbão (AL). “Eu sou constantemente cobrado. Os deputados do partido reclamam que estão sendo atropelados. Eles querem mostrar resultado, chegar lá na ponta, mas não conseguem”, complementa o líder do PR, Bernardo Santana (MG). “O que dói em um, dói em outro”, resume o líder do PTB na Câmara, deputado Jovair Arantes (GO).
Há um mês, Dilma designou seu novo homem forte do governo, Aloizio Mercadante (Casa Civil) para tentar realinhar a relação com o Congresso. No primeiro contato direto, porém, fracassou: ao lado de Ideli e do vice-presidente, Michel Temer, que exerce o papel de apaziguador da bancada do PMDB, Mercadante errou o tom. Ao tentar recuperar o apoio, afirmou aos deputados do “blocão” que a recondução da presidente estava consolidada e que os deputados deveriam "tirar foto com a Dilma”. A ação só piorou os ânimos.
Petrobras – A estreia do “blocão” aconteceu na última terça-feira. Diante das denúncias de que a Petrobras recebeu propina para favorecer contratos de uma empresa holandesa, conforme revelou VEJA, os deputados se articularam para apurar o caso com a criação de uma comissão externa. O governo ainda tenta abafar o problema e, na Câmara, trabalhou para retirar a proposta de pauta. Mas não obteve sucesso: o requerimento foi rejeitado por 261 votos a 80. O "blocão" ganhava seu primeiro round.
“Nós derrotamos o governo. O resultado político já foi obtido. Enquanto não votarem a criação de uma comissão externa, vou obstruir a pauta. Ou vota isso ou não vota nada”, afirmou Eduardo Cunha.
Acuado, o Planalto teve o apoio do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Ao final do prazo regimental para a votação da matéria, Alves não pautou novamente o tema e empurrou a votação para o dia seguinte – uma quarta-feira esvaziada por causa do feriado de Carnaval. Sem quórum, a votação foi remarcada para o próximo dia 11.
Depois da trapalhada no primeiro contato, Mercadante procurou individualmente os líderes dos partidos para ouvir as demandas e tentar aplacar os ânimos. Além disso, doze ministros, entre eles Aguinaldo Ribeiro (Cidades) e Francisco Teixeira (Integração Nacional), foram escalados para ouvir os deputados depois do Carnaval. Eles farão uma espécie de “plantão” na Câmara – algo inédito na gestão Dilma.
O governo também estuda montar um cardápio de pautas de apelo popular que podem ser aprovadas ainda neste ano. Para isso, precisa retirar a urgência de cinco projetos prioritários do Executivo que impedem a votação de outras matérias – começando pelo Marco Civil da Internet. A partir daí, o "blocão" poderá até ser dissolvido. Mas, para um governo que nunca se empenhou em manter diálogo com o Congresso, o recado dos deputados foi dado.
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