Por causa da gravidade do problema, o prefeito de Canindé viajou para buscar ajuda em Brasília na madrugada de ontem
Na tentativa de amenizar a sede, agricultores que residem em
áreas ribeirinhas cavam poços de forma manual para retirar água barrenta
O conjunto de açudes que abasteciam Canindé - São Matheus, Sousa e Escuridão - foram desativados por conta do volume morto. A Cidade enfrenta sérias dificuldades no seu abastecimento. Tem gente que chega a ficar até 20 dias sem saber o que é água nas torneiras de casa. Nos locais onde havia imensas reservas, hoje em dia só se vê um verdadeiro mar de lama ou o chão rachado.
Para fazer frente à crise e amenizar os efeitos da seca a Prefeitura anunciou que existe um plano de emergência para aproveitar as águas dos 22 poços profundos perfurados na sede do Município. Entretanto, o consumo é alto e, em muitos bairros, a situação piora a cada dia.
O prefeito Celso Crisóstomo lamenta que o principal empecilho para resolver esses problemas é a falta de dinheiro "É necessária à descentralização de recursos para que as prefeituras possam atuar de maneira emergencial e evitar tantas dificuldades".
Em razão da gravidade do quadro, o prefeito viajou na madrugada desta terça-feira a Brasília a fim de buscar soluções para os problemas hídricos da região.
No bairro da Palestina, distante cerca de 20 metros do açude São Matheus, moradores reclamam todos os dias da falta de água. A dona de casa Maria Dejanira dos Santos, 57 anos, disse que já passou até duas semanas sem água na torneira. "Aqui é uma situação triste. Quem pode compra um latão de água de mil litros por R$ 25,00. Quem não tem, fica à mercê da própria sorte", denuncia a doméstica.
Francisco Inácio dos Santos, todos os dias pega da água que resta no açude para tomar banho e lavar louça e roupa. "É suja, mas, com um pouco de paciência, dá para aproveitar o que fica em cima da vasilha.
No bairro São Matheus, que leva o nome do reservatório construído em 1957, a situação é parecida. O comerciante José de Almeida Braga, 59 anos, lamenta. "Quem tem dinheiro compra água de procedência duvidosa. Os que não têm ficam desprezados, sem saber a quem apelar". No bairro de Cachoeira da Pasta, água é coisa rara. A costureira Terezinha Sampaio Moura, 54 anos, garante que está comprando água para beber, tomar banho, cozinhar e lavar.
"São R$ 100,00 todo mês e com uma condição é preciso poupar para garantir os 30 dias, caso contrário os quatro mil litros de água vão embora rapidinho'', disse em tom de preocupação.
Passados quase seis meses, a adutora que vai levar água de General Sampaio para a cidade de Canindé ainda não ficou totalmente concluída.
Segundo o engenheiro sanitarista ambiental do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE), José Elias Teixeira Rodrigues, a adutora está funcionando através de gerador até a estação de tratamento de São Domingos, que levará água para o vizinho município de Caridade. O SAEE explicou em nota que "a sede está passando por um período de transição de fontes de captação de água". O último bombeamento do açude Escuridão foi em 3 de dezembro".
Água suja
Na zona rural a situação também é crítica. Muitas famílias ainda dependem doe carros-pipas. Até crianças se revezam buscando água suja e poluída. O líquido amarelado vem de poços cavados manualmente por agricultores de áreas ribeirinhas como última salvação para matar a sede.
Para os mais antigos, essa é a maior seca dos últimos 60 anos. "Nunca tinha visto coisa igual. Se continuar assim, vai morrer muito bicho de fome e sede'', fala em voz lenta o agricultor Argemiro Correia Flores, 89 anos, que mora na comunidade de Salão II, onde as crianças tiram água para afazeres de casa.
Situação também é bastante crítica nas demais regiões
Na Bacia do Alto Jaguaribe, o nível dos grandes e médios reservatórios ainda é confortável, mas o problema de desabastecimento é grave em comunidades isoladas que dependem de pequenos açudes e de poços. As reservas hídricas secaram ou estão secando e a salvação é o abastecimento por carro-pipa. No município de Quixelô, centenas de famílias da zona rural estão desesperadas. Há dois carros-pipa que não atendem à demanda. "A situação está se agravando e precisamos de novas rotas de abastecimento", disse o secretário de Agricultora, José Costa. "A burocracia atrasa a implantação de projetos do Água para Todos e isso traz dificuldades para as famílias".
No município de Iguatu, o maior da região Centro-Sul, somente o carro-pipa doado pelo governo federal, do PAC, faz o abastecimento de dezenas de comunidades. A secretária de Agricultura do município, Edileuza Pereira, criticou duramente a Comissão de Defesa Civil do Estado. "Só mandaram um carro que quebrava toda semana e há vários meses está paralisado", disse. "Já solicitamos novo caminhão e ampliação da rota, mas não fomos atendidos". Pelo menos 18 comunidades sofrem com a falta de água em Iguatu.
Cariri
Na região do Cariri também há municípios enfrentando dificuldades de abastecimento para o consumo humano. As situações mais preocupantes estão sendo vividas pelos moradores dos municípios de Nova Olinda, Santana do Cariri, Potengi e Antonina do Norte, que dividem a água coletada em duas nascentes no sopé da Chapada do Araripe para continuarem usufruindo da água através de carros-pipas. Somente em Santana do Cariri, a escassez hídrica já atinge cerca de 12 mil pessoas. Nas comunidades mais afastadas dos mananciais de captação, o sofrimento é ainda maior.
"Nós temos comunidades distantes até 50 km dos locais onde a água vem sendo coletada para o abastecimento através dos carros-pipas que atendem o nosso município através das Defesa Civil do Estado. Nestes locais, a demora para abastecimento é ainda maior. Isso gera transtornos e preocupação aos moradores destas áreas", informou o secretário de Agricultura do município, Joaquim Major.
Segundo ele, a estiagem observada nos últimos três períodos de quadra invernosa fez com que o açude Tatajuba, principal manancial de abastecimento do município, acabasse perdendo a capacidade de abastecimento. Atualmente o reservatório apresenta, apenas, 15% de sua capacidade total já se encontrando, portanto, no volume morto.
"Mesmo que o volume fosse maior, a qualidade da água é imprópria para o consumo humano. Seria necessário um tratamento demorado para que a população pudesse voltar a utilizar a água desse reservatório", avalia Joaquim Major.
Inhamuns
Crateús é uma das regiões mais prejudicadas com a ausência de chuvas. Os reservatórios que abastecem a cidade estão comprometidos. O açude Carnaubal está com apenas 0,04% da sua capacidade. Além dele, a cidade é abastecida pela barragem do Batalhão, que está com 28,18% de volume.
Antônio C. Alves/Sucursais
Colaborador
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