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Um grupo de cinco crianças formou sua própria composição policial naquela cidade |
No município de Redenção, a 66 quilômetros de Fortaleza, um grupo de cinco crianças formou sua própria composição policial. Identificados por capitão Ferreira, sargento Erismundo, cabo Maxisteyner, soldados Freitas e Pereira, eles brincam percorrendo as ruas da cidade, com armas feitas de madeira e uma unidade móvel montada com uma sucata de geladeira, sob duas rodas de bicicleta.
O grupo aborda quem passa por eles, na tentativa, segundo o comandante mirim Ferreira, de colocar ordem e lei na cidade. As imagens dos meninos ganharam as redes sociais e os grupos de WhatsApp. Trajando uniformes de papelão com identificação da Força Tática de Apoio (FTA), um grupamento da Polícia Militar, os garotos brincam pelas ruas abordando moradores em sua viatura.
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Identificados por capitão Ferreira, sargento Erismundo, cabo Maxisteyner, soldados Freitas e Pereira, eles brincam com armas feitas de madeira. |
Responsável pelo patrulhamento da região, o capitão Ferreira da vida real, relata que se sentiu honrado e feliz em servir de exemplo para eles. "O fato de os meninos se identificarem com a profissão é a avaliação positiva do bom atendimento prestado à comunidade. Estamos diariamente nas ruas conversando com a população, ouvindo e atendendo as suas demandas", exaltou o PM.
Durante todo o tempo dentro da unidade, os meninos eram taxativos em dizer que queriam seguir carreira na Polícia. "A PM também tem esse trabalho de conscientização a adolescentes e crianças. Sempre com o cunho social, no intuito de pontuar que o mundo do crime e das drogas não leva a nada", comentou.
Brincadeira séria
Renata Kelly da Silva, 33, mãe de um dos jovens, destaca que prefere que o filho esteja brincando de Polícia do que ver o filho envolvido com grupos errados. Segundo a mãe, as drogas estão presentes nos bairros de Redenção. "Eu não sei quando ele começou a brincar disso, só soube quando cheguei em casa e minha irmã me contou que ele estava na rua todo vestido de colete", riu a mãe. Ela ainda conta que ficou feliz pelos PMs terem convidados seu filho e os amigos para conhecer a unidade policial, destacando ser um incentivo, tanto para eles, quanto para as outras crianças.
A professora Bernadete de Souza Porto, coordenadora do Grupo de Estudo e Pesquisa em Aprendizagem, Escola e Infância da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará (UFC), doutora e mestre em Educação, salienta que a brincadeira e o "faz de conta" é saudável, mas que não haveria a necessidade da construção de armas de brinquedo.
"A construção do revólver ou pistola é prejudicial. Isso é algo que simboliza, de certa forma, a prática da violência, o que pode extrapolar o limite da brincadeira", ressaltou a profissional.
A doutora orienta que esse é um bom momento para transformar essa situação em um canal de diálogo entre a comunidade, os jovens, pais e professores. "Infelizmente lidamos com violência todos os dias, seja presencialmente ou pela TV. Esse é o momento ideal para se discutir essas vivências", afirma.
Segundo a professora, a prática dos PMs em levar os meninos à unidade da Polícia é aceitável, a partir do momento em que esses profissionais tenham sido capacitados para realizar esse tipo de orientação aos jovens. "Os policiais vivem uma cultura diferente no dia a dia do seu trabalho, diferente das crianças. A capacitação dos policias facilita a troca de informações entre eles", reforça.
Ações educativas
A Polícia Militar do Estado do Ceará (PMCE), por meio do Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd), do Batalhão de Policiamento Comunitário (BPCom) e do Comando de Policiamento Comunitário (CPCom), forma jovens conscientes sobre o que são as drogas e seus efeitos, com ações educativas realizadas nas escolas.
Outro projeto criado para atender o público infantil é o Turminha do Ronda. Por meio de teatro de fantoches, os PMs utilizam o lúdico para entreter e conscientizar crianças sobre temas relacionados à segurança pública. A Polícia Civil também desenvolve trabalho na área educacional, com a Divisão de Proteção ao Estudante (Dipre), que capacita professores e alunos sobre à prevenção a violência e ao uso de drogas.
Segundo o tenente-coronel Fernando Albano, a iniciativa leva informações aos jovens sobre as diversas problemáticas das drogas. "Os policiais que atuam nesses projetos são treinados pedagogicamente para levar informação na linguagem de crianças e adolescente", relatou o comandante do CPCom.
(Colaborou João Lima Neto)
Fonte: Diário do Nordeste
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