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quarta-feira, 11 de março de 2015

Programa água doce: Estado vai dessalinizar água de poços profundos no Interior

O programa irá se integrar às iniciativas desenvolvidas pelo governo do Ceará no combate à seca

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A reserva hídrica do Ceará, em fevereiro último era de 11%, sem o Castanhão e o Orós
FOTO: FABIANE DE PAULA 
 
Em meio a mais uma grande seca que assola o Ceará e o Nordeste semiárido - a 13ª registrada no Estado, somente nos últimos 25 anos -, diante de reservatórios no limite crítico de reserva hídrica e de milhares de comunidades abastecidas por meio de carros pipas, algumas das quais com água insalubre para o consumo humano, o Ministério do Meio Ambiente, em parceria com as secretarias estaduais de Recursos Hídricos de oito estados nordestinos e de Minas Gerais, celebraram, na manhã de ontem, em Fortaleza, o III Pacto Nacional de Execução do Programa Água Doce (PAD).

Lançado em 2004, mas integrado ao Programa Água para Todos somente em 2011, o PAD caracteriza-se como um programa de recuperação de poços artesianos, implantação e gestão de sistemas de dessalinização de água, para atender populações de baixa renda em comunidades difusas do semi-árido.
No Ceará, o PAD prevê a instalação de 222 dessalinizadores, em igual número de comunidades rurais, distribuídas em 45 municípios. A previsão é que 22.200 pessoas sejam beneficiadas no Estado- número ainda muito distante da população de cerca de 1,6 milhão de rurícolas que vivem no semiárido cearense sem água potável em casa.
Investimentos
A ordem de serviço para implantação dos sistemas de dessalinização será assinada pelo governador Camilo Santana, no dia 19 de março - Dia de São José, padroeiro do Ceará. Os trabalhão vão começar pela comunidade de Sitio do Meio, no município de Pentecoste, segundo informou, na manhã de ontem, o coordenador Estadual do Programa Água Doce, no Ceará, Ricardo Marques.

Neste ano, antecipou, a meta é a implantação de 140 dessalinizadores, o correspondente 63% do total, número que, segundo ele, dependerá apenas da "força" do inverno. Para instalação do total de equipamentos serão investidos R$ 36 milhões, sendo 10%, ou R$3,6 milhões, de contrapartida do governo Estadual, enquanto outros R$ 9 milhões já estariam assegurados para instalação de mais 55 dessalinizadores, em áreas ainda não definidas. Conforme disse, dois lotes já foram licitados e o terceiro está em fase de finalização do processo licitatório.

Nos nove Estados contemplados - no Nordeste, apenas o maranhão ficou de fora -, estão previstas serem beneficiadas até 2016,cerca de 100 mil pessoas, a partir da implantação de 1.200 equipamentos, e investimentos de R$ 240 milhões, do governo Federal e dos Estados. Em média, a implantação de cada sistema de dessalinização custará R$ 200 mil. No Ceará, o preço médio vai girar em torno de R$144 mil, por cada sistema instalado.
Logística
De acordo ainda com Marques, o "pacote" de dessalinizadores destinados ao seminário cearense será dividido em três lotes, sendo um na região Oeste, de Irauçuba descendo até Boa viagem, outro lote mais em baixo, na região de Crateús, Independência e Tauá, e o terceiro, no lado Leste do Estado, mais próximo ao Sertão Central.

Conforme explicou, os trabalhos para efetivação do programa no Ceará, foram iniciados há três anos, com a realização de diagnósticos de poços profundos já perfurados no Interior - muitos dos quais desativados - , com análises físico-químicas da água e testes de vazão. De acordo com Marques, foram examinados 444 poços, sendo escolhidos a metade, 222, nos municípios com menores índices de desenvolvimento e nas comunidades em cujas fontes apresentaram viabilidades técnicas.
'Iniciativa complementar'
"Este programa se diferencia dos demais porque prevê sustentabilidade ambiental e social do empreendimento", avalia Marques, destacando que ele nasceu "a partir de conversas com as comunidades do Interior". O objetivo do dessalinizador, resume Marques, "é atingir as comunidades mais carentes e mais distantes, abrindo a possibilidade de eliminação dos carros pipas".

Opinião semelhante tem o secretário de Recursos Hídricos do Ceará, Francisco Teixeira, para quem o Água Doce é um programa complementar, destinado às comunidades rurais mais distantes, situadas em áreas difusas, onde as grandes obras de infraestrutura hídrica não chegam.

Conforme explicou Teixeira, as grandes barragens, as adutoras servem mais ao abastecimento das populações e às áreas urbanas e para demais usos da água como irrigação e integração de bacias. "Mas o Estado carece de um foco também na população rural, para as comunidades localizadas de maneira difusa nos distritos, nos municípios, o que torna difícil o atendimento por meio do sistema clássico, como canais, as adutoras, reservatórios de médio porte, etc".
Importância
"Não podemos fazer canais, adutoras convencionais por aí, pelo Interior, como fio de energia", explicou o secretário, ressaltando que isso seria inviável técnica e ambientalmente.
"As comunidades rurais têm de ser atendidas por sistemas mais localizados e simplificados como poços profundos, pequenas barragens, cisternas de placas e polietileno para guardar água da chuva, cisternas de produção, barragens subterrâneas", explica.

Ele ressalta ainda, a importância do Programa, ao lembrar que no Ceará, no semiárido nordestino, de 60% a 70% dos poços perfurados apresentam água salobra. "Daí o programa Água Doce, que preconiza a instalação de dessalinizadores para tornar a água potável às comunidades rurais", justifica Teixeira.
Resíduos
Dois problemas, no entanto, ainda terão que resolver os Estados na implantação do programa. O primeiro e mais grave diz respeito à definição do local de descarte dos resíduos líquidos e sólidos, de sais rochosos e prejudiciais ao solo, que são gerados através do processo de dessalinização da água.

Conforme revela o presidente da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), Henrique Pires, de 30% a 50% da água dessalinizada deve ser descartada, porque é imprópria para o consumo.

Segundo ele, técnicos do programa estariam estudando saídas tecnológicas para o problema. Outro desafio será a manutenção dos dessalinizadores, que correm o risco de ser danificados, se ficarem sem uso nos períodos de chuva.

Carlos Eugênio/Murilo Viana
Repórteres

DN

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