Após episódios de aviões pousarem com drogas no Interior, Polícia Federal intensifica trabalhos
Locais utilizados pelas quadrilhas para realizar o pouso de
aeronaves com carregamento de drogas estão na mira da PF. Além de
aeródromos já conhecidos, clareiras abertas em sítios e fazendas estão
sendo verificadas
FOTO: NAVAL SARMENTO
O titular da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da Polícia Federal, Janderlyer Gomes, ressaltou que os trabalhos são direcionados para localizar os locais clandestinos. Fazendas, sítios e demais terrenos particulares estão, agora, na mira da PF.
"A Polícia Federal investiga outras notícias de pistas de pouso. É uma preocupação nossa e uma investigação que iremos enfrentar. A gente espera desenvolver bons trabalhos nesta seara, com essas quadrilhas que atuam, a partir dessas informações que colhemos e outras. Toda notícia dessas pistas clandestinas construídas em áreas de propriedades particulares, fazendas do Interior, é bem vinda pra gente", disse.
A reportagem esteve em Canindé, na pista de pouso utilizada pela quadrilha que transportava 400 kg de cocaína na aeronave monomotor Cessna-210, modelo Centurion II, prefixo PP-FFU. O local, de 1,2 km de extensão, fica a 2 km de distância da rodovia BR-020 e a cerca de 4 km de um posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF). O acesso, feito por uma estrada carroçável, é de conhecimento da população local.
Por ocasião da interceptação do avião na terça-feira, muitos foram ao local conferir o veículo de perto. Curiosos, os populares comentavam que não suspeitavam que aquele local fosse utilizado pelo tráfico. Contudo, relatam que a pista era frequentemente visitada. "Às vezes, quando escuto o barulho dos 'bichin', venho ver 'baixar'. Já vi descer 40 pessoas de uma vez", afirmou um agricultor.
Controvérsia
O terreno pertence à Prefeitura de Canindé desde a década de 50. Por telefone, o prefeito da cidade, Celso Crisóstomo, confirmou que há a previsão de transformar o espaço em um Aeroporto Regional. "Desde 1958 já temos a área e em 2014 desapropriamos para expandir a nossa capacidade de pista. Estamos entre 70 aeroportos com recursos configurados para 2015, do Brasil inteiro", afirmou.
Conforme populares, a pista é utilizada também durante os períodos de romaria à cidade, informação confirmada pelo prefeito. Segundo Crisóstomo, o local não está irregular e a Prefeitura, inclusive, fornece apoio quando solicitado para a realização de pousos. "A pista faz parte do sistema de Aeroportos. Não é clandestina, não é informal. Quando solicitam, enviamos Guarda Municipal para auxiliar lá. Ela faz parte do mapa de pequenos aeroportos, e quem é responsável por ela é o Departamento Estadual de Rodovias (DER)", disse.
Em contato também por telefone, o DER negou que possua responsabilidade sobre o terreno. Segundo o órgão, a pista não é homologada.
Em nota, a Agência Nacional de Aviação (Anac) afirmou que "não há registros de pista de pouso autorizada ou cadastrada na localidade indicada, até o momento". A pista de Canindé também não aparece no site da entidade. Da mesma forma, as pistas descobertas pela Polícia em Boa Viagem e Crateús também não constam nas tabelas de pistas particulares ou públicas existentes na página da Anac.
"Quando a Agência identifica, por meio de fiscalizações ou denúncias, locais não registrados, adota as providências cabíveis para punir pela infração cometida (...) A fiscalização sobre eventual utilização irregular de pista é uma das atribuições da Anac e as ações sobre segurança do transporte aéreo são a prioridade da Agência", enfatizou o órgão, através de nota.
Prisões
No dia da operação, acabaram presos, o piloto da aeronave Cléber Paulo da Silva; e o taxista Antônio Cícero Cruz Silva. Na última sexta-feira (17), Jeferson Domingos Franco, o 'Jefinho', homem apontado como envolvido no tráfico da droga localizada em Canindé e que estaria no avião juntamente com Cléber, foi encaminhado para Fortaleza, onde prestou depoimento, na sede da Polícia Federal, no Bairro de Fátima. Segundo o delegado Janderlyer Gomes, o suspeito negou as acusações.
"Ele diz que não sabe de nada, apesar de todas as evidências. Agora é investigar, iniciar a parte de inteligência. São 30 dias para avançar nas investigações que podem ser prorrogadas por mais 30. O caso está na Justiça Federal", afirmou.
O homem foi localizado após confronto de imagens de câmeras de segurança e do Facebook. Segundo a Polícia, ele foi reconhecido por testemunhas. "Ele pegou o táxi em Canindé e veio a Fortaleza. Aqui entrou em contato com parceiros em outros Estados. Em Mato Grosso, foi adquirida uma passagem de avião, paga em dinheiro, para ele. Com imagens do Aeroporto Pinto Martins identificamos a pessoa, comparando horários de embarque, os trechos, e detectamos o voo. Comparamos as imagens e dados do voo com o que encontramos no avião. Havia uma coordenada geográfica de uma cidade da Bolívia próxima da fronteira com o Mato Grosso que foi encontrada no avião", detalhou.
O suspeito foi preso em São Paulo, quando tentava embarcar em outra aeronave para Goiás. Trazido para Fortaleza, está recolhido na Delegacia de Capturas e (Decap).
Levi de Freitas
Repórter
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