Em conversas que
entraram pela madrugada desta terça-feira (07/04), o PMDB revelou-se
dividido em relação à sondagem de Dilma Rousseff para que o partido
assuma a pasta das Relações Institucionais, que cuida da coordenação
política do governo. Ficou claro que a eventual transferência do
peemedebista Eliseu Padilha do Ministério da Aviação Civil para o
coração do Palácio do Planalto não fará do PMDB um aliado fiel ao
governo. Muito longe disso.
No modelo de coalizão
partidária que vigora no Brasil, articulação política virou um eufemismo
para a troca de cargos e verbas por votos no Congresso. Aí começa o
problema. Na expressão de um membro da Executiva do PMDB, a pasta das
Relações Institucionais é, hoje, um "balcão vazio".
Num governo de continuidade, não tem cargos a oferecer. Submetida aos
rigores orçamentários impostos pelo ajuste fiscal, faltam-lhe também as
verbas.
Sem essas duas
matérias-primas, avaliam caciques do PMDB, ainda que fosse um gênio da
articulação, Padilha não conseguiria pacificar o condomínio governista,
que impõe sucessivas derrotas a Dilma no Congresso. Um correligionário
aconselhou Padilha a refletir sobre sua própria experiência no governo
antes de responder positivamente à sondagem de Dilma.
No comando do Ministério
da Aviação Civil há três meses, Padilha não conseguiu nomear gestores
de sua confiança para a Infraero, estatal que pende do organograma de
sua pasta. Pois a mesma Dilma que o impediu de realizar as nomeações
convida-o agora para gerenciar o balcão vazio, atrás do qual o petista
Pepe Vargas, no momento um quase ex-ministro, virou a personificação do
nada.
Presidentes do Senado e
da Câmara, Renan Calheiros e Eduardo Cunha, no momento os principais
algozes de Dilma no Legislativo, trataram de tomar distância da
articulação. Se a presidente quiser levar adiante a ideia de transferir
Padilha para o Planalto, diz a dupla, não deve contar com retribuições
do PMDB. A
debilidade de Dilma no Congresso interessa a Renan e a Cunha. Donos da
agenda do Legislativo, os dois servem rações semanais de constrangimento
ao governo.
Com
isso, as crises política e econômica monopolizam as manchetes, sobrando
menos espaço para o noticiário sobre os inquéritos abertos contra ambos
no STF por suspeita de envolvimento no escândalo das propinas na
Petrobras. Noutro
paradoxo que marca as relações do PMDB com o governo, os presidentes da
Câmara e do Senado defendem a redução do número de ministérios de 39
para 20 e, simultaneamente, apadrinham nomes distintos para uma mesma
pasta, a do Turismo.
Cunha
defende a nomeação de Henrique Eduardo Alves, ex-presidente da Câmara.
Renan prefere manter o atual ministro Vinicius Lage, seu apadrinhado. E
Dilma sujeita-se ao contrassenso. A
transferência de Eliseu Padilha para o Planalto poderia facilitar a
resolução desse impasse. Henrique Alves poderia substitui-lo na pasta da
Aviação Civil. Ou poderia ser efetivado no Turismo se Vinicius, o
chegado de Renan, não se importasse de trocar de ministério.
A principal conversa da
noite ocorreu no Jaburu, o palácio que serve de residência para o
vice-presidente Michel Temer. Amigo de Padilha, Temer gostaria de vê-lo à
frente da articulação política. Mas ouve opiniões contrárias de outros
amigos, que têm o mesmo apreço por Padilha. É o caso de Moreira Franco,
ex-titular da Aviação. Ou de Geddel Vieira Lima, ex-ministro de Lula e
ex-vice-presidente da Caixa.
Moreira preside no
momento a Fundação Ulysses Guimarães, braço acadêmico do PMDB. Dedica-se
a organizar o partido para as eleições municipais de 2016, um pleito
que é tratado pelo PMDB como antessala do lançamento de uma candidatura
partidária às eleições presidenciais de 2018, longe do PT. Para uma
legenda que rumina tais planos, a proximidade com Dilma, presidente
aprovada por apenas 13% dos entrevistados do Datafolha, pode ser letal.
Outro amigo de Temer,
Geddel Vieira Lima, ex-ministro de Lula e ex-vice-presidente da Caixa
Econômica Federal na primeira gestão de Dilma, vai direto ao ponto ao
expor sua aversão à hipótese de transferência do amigo Padilha para o
Planalto. Em conversa com um amigo, Geddel disse na noite passada que "chegou a hora de as máscaras caírem".
Geddel foi ao ponto: o
PMDB tem de dizer quem está indicando quem. Se o partido estiver
interessado em cargos a essa altura, deve parar de fazer "marola"
no Congresso e arquivar o projeto presidencial de 2018. Sob pena de dar
razão a Cid Gomes, que criticara os governistas que armam emboscadas
para o governo sem "largar o osso". As conversas sobre a sondagem de Dilma prosseguem nesta terça-feira. A presidente conta com uma resposta rápida.
Fonte: Josias de Souza
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